A arroba do boi gordo iniciou 2010 valendo R$ 76,79/@ de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). Olhando para os patamares atuais parece distante, não é?
Bom, vamos voltar um pouco e observar o que levou a arroba a tal patamar. Em 2008, após uma forte crise mundial, seguida por uma verdadeira quebradeira de frigoríficos, fato desencadeado pela escassez de crédito, a arroba sofreu acentuada queda (31%) se comparada ao movimento efetuado no início daquele ano, que foi de forte valorização (30% de alta desde o início de 2008 até o pico do movimento, ocorrido em junho).
Com a crise no caminho, a trajetória altista iniciada em 2008 foi interrompida. Entretanto, dezembro de 2009, quando chegou a valer R$ 72,03/@, o reaquecimento da economia brasileira, e consequentemente do consumo de carne bovina, deram novo ânimo ao mercado pecuário. A escassez de animais terminados, reflexo do abate forçado de matrizes no ciclo pecuário anterior, também atuou como suporte e, trocando em miúdos, esses importantes fatores (oferta e demanda) colocaram o boi gordo novamente na trajetória de alta que havia sido interrompida. Além disso, houve atraso das chuvas nesta entressafra e queda de 20% (estimativa) para o volume de animais confinados, resultado de margens negativas nos anos anteriores e os altos preços do boi magro.
Impulsionado pelos fatores descritos, ele continuou em ascensão durante praticamente todo 2010, reagindo fortemente aos estresses de oferta ocorridos no ano, principalmente durante a entressafra. Atingiu o seu pico em R$117,18/@, ocorrido na primeira quinzena de novembro. Foram incríveis 53% de valorização em menos de um ano, situação realmente rara. Após um forte ajuste, é possível observar que a valorização ainda se encontra entre as mais altas historicamente, 40% sobre o início do ano. Na verdade, nos últimos 10 anos esta foi a primeira reação observada com esta magnitude.
O consumo, como já comentado, não deixou a desejar em 2010. Ao observarmos alguns indicadores econômicos, percebe-se que a economia esteve bastante aquecida. Resultado disso, inclusive, é a inflação em patamares elevadíssimos. De acordo com o Departamento Americano de Agricultura (USDA), o consumo brasileiro de carne bovina per capita aumentou 8% na última década, e espera-se um acréscimo de mais 1% até 2011. A migração de boa parte dos brasileiros das classes D e E para a classe C (e aqui vale uma observação: a grande maioria dos brasileiros hoje – 50,5% – pertence à classe C, ou seja, possui uma renda domiciliar entre R$ 1.064,00 e R$ 4.591,00) fez aumentar o consumo de carne bovina, que possui uma elasticidade-renda em torno de 0,5 (isso significa que para cada 10% a mais de renda, o consumo de carne bovina aumenta em 5%).
As exportações voltaram aos níveis pré-crise, apesar do recuo observado nos últimos dois meses, reflexo de um câmbio desfavorável, abates reduzidos e demanda interna fortalecida. O volume total exportado de janeiro a novembro de 2010 foi 7% superior ao mesmo período de 2009 e o faturamento foi 13% superior, comparando-se o mesmo período.
Já os custos de produção, de acordo com a Bigma Consultoria, subiram 10,16% entre janeiro e novembro deste ano frente a 50,5% para a arroba no mesmo período. A relação de troca do boi gordo com o bezerro, que chegou a 1,88 em julho, acabou se recuperando, e hoje está no patamar de 2,42, ou seja, também voltou a favorecer o produtor no fim da entressafra, apesar de ter se mostrado bastante desfavorável em alguns momentos.
De toda forma, 2010 foi um ano memorável e bom em termos de preço, mesmo quando comparamos os custos de produção. Se a demanda se mantiver aquecida em 2011 e as exportações encontrarem espaço para uma recuperação (ainda depende muito do câmbio), é possível que os preços alcancem patamares acima dos R$100,00/@ à vista novamente em São Paulo, mas olhando para a relação de troca que melhorou, fica mais difícil imaginar novos recordes de preços nominais na entressafra. De toda forma, é esperar para ver!
Bom fim de ano a todos. Vejo-os em janeiro!
FONTE: www.agroblog.com.br
AUTOR: Lygia Pimentel
Nenhum comentário:
Postar um comentário