Lygia Pimentel é médica veterinária e especialista em commodities pela XP Investimentos
lygia.pimentel@xpi.com.br
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Apesar de ser período de safra, houve valorização para a arroba do boi gordo em fevereiro, comportamento atípico quando considera-se sua sazonalidade. Isso não significa que os preços estejam subindo. Na verdade, eles apenas se recuperaram um pouco desde a queda de outubro.
Mas voltando a fevereiro, os preços subiram 2,7% no período, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, o CEPEA . Ocorre que a oferta de animais permanece pequena e a demanda, apesar de enfraquecida pelos preços altos, consegue absorver facilmente a pouca quantidade de matéria-prima disponível no mercado, o que deixa o mercado lateralizado.
O consumo interno permaneceu estável, mas a demanda internacional reagiu considerando-se a comparação mensal. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), houve reação de 30% para o volume de carne bovina in natura embarcado em fevereiro em relação ao volume registrado em janeiro. Em contrapartida, na comparação ano-a-ano, fevereiro de 2011 ficou 10% abaixo do volume exportado em fevereiro de 2010.
Ocorre que os embarques de carne bovina in natura para a União Europeia permanecem firmes. Já os embarques para o Egito, Irã e Líbia, que foram prejudicados pelos conflitos no Oriente Médio, foram realocados para a Rússia, mercado que também prefere comprar dianteiros bovinos. Uma boa solução para o problema. Entretanto, como é típico do mercado russo, houve negociação do valor da mercadoria realocada. Mas em resumo, houve ligeira ajuda do mercado internacional, refletido pelo aumento do interesse em animais rastreados e castrados.
De toda forma, as chuvas estão aí e as pastagens encontram-se em boas condições para a engorda dos animais sem a necessidade de suplementação. Os preços permanecem firmes e sustentados, entretanto, a força de uma safra não pode ser subestimada. Tanto é assim que o mercado futuro precifica uma queda para o contrato mais curto, ou seja, o vencimento março/11.
Chama atenção o mercado físico na safra na casa dos R$105,20 e o BGIV11 (vencimento outubro 2011), que representa o pico da entressafra, sendo cotado abaixo desse patamar, mais precisamente (hoje, 3/3/2011), em 104,51. Voltando ao raciocínio de um texto anterior, o mercado segue pessimista em relação à entressafra e pela primeira vez desde 2001, precifica em março uma queda para o mercado em outubro. Observe a tabela.
Tabela 1.
Vencimento do contrato outubro em março: evolução.
Fonte: XP Agro, BM&F/BOVESPA/Cepea.
Podemos estar diante de um cisne negro (para quem não leu, recomendo: A Lógica do Cisne Negro, do Nassim Taleb), ou diante de um mercado demasiadamente pessimista. Mesmo assim, é sempre interessante ver uma exceção, um evento que nunca antes tinha ocorrido, não é?
FONTE: BIGMA CONSULTORIA
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