quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mercosul exporta menos e come mais carne


O Mercosul está exportando menos carne, enquanto o consumo do produto tem aumentado. Na Argentina, no Brasil e no Uruguai, o consumo de carne está sustentado e os frigoríficos, em muitos casos, recebem preços mais altos em nível de abastecimento interno do que nos mercados internacionais.

A população do Uruguai passou do consumo de 47,6 quilos de carne bovina por habitante ao ano em 2005 para 62 quilos por habitante em 2010, para chegar a se converter no país com o consumo per capita mais alto do mundo. Na Argentina, o consumo estava aumentando até que houve uma redução do rebanho - que perdeu 12 milhões de bovinos em quatro anos - e durante vários anos, não consumirá mais de 50 quilos por habitante por ano, segundo analistas. Já o Brasil aumentou em três quilos o consumo de carne per capita e, em um país de 200 milhões de habitantes, esse aumento representa 600.000 toneladas.

"No Brasil e no Uruguai, com o câmbio valorizado e com economias que crescem, o consumo de carne se eleva", disse o consultor de carnes da Argentina, Ignacio Iriarte. A mesma visão é compartilhada pelo secretário executivo a Câmara da Indústria Frigorífica (CIF) uruguaia, Daniel Belerati. O empresário disse que essa tendência "se manterá, à medida que o Brasil mantenha sua atual política econômica".

"O alto preço do gado é observado no mercado local e parcialmente no mercado internacional. Muito lentamente, a combinação de gado escasso, consumo interno firme, crescimento do produto bruto por habitante e variação cambial, faz com que tanto o Brasil como o Uruguai sejam países que consomem mais carne internamente e exportam menos, tudo isso com valores recordes em termos de dólar", disse Iriarte.

Nesse sentido, Belerati recordou que os atuais valores da tonelada de carne bovina uruguaia "são muito parecidos aos que tinha em agosto de 2008 - um ano recorde para o setor local de carnes -, um mês antes de se desatar a crise econômica que afetou o mundo e que fez cair em 50% o valor da tonelada".

Iriarte disse que o mercado internacional, por mais que tenha uma demanda firme, "não pode pagar mais pela carne que produzimos". Segundo ele, "para chegar à mesa de um consumidor russo, da União Europeia (UE) ou de outras partes do mundo, há muitos gastos. Por isso, é muito mais interessante para os frigoríficos voltar os cortes ao mercado interno, porque esse paga bem".

Hoje, a carne uruguaia não tem um problema de mercado internacional, mas sim, ocorre o raro fenômeno de que muitos dos cortes tenham melhores preços no mercado interno. Para Iriarte, o Uruguai, com esses preços internos altos, em muitos cortes, está se auto-excluindo do mercado internacional quando baixa a demanda em um nicho pontual, porque "o mercado internacional não pode aguentar a brutal valorização do gado em todo o Mercosul".

O grande problema que o Uruguai tem hoje para aproveitar melhor as oportunidades de negócios no mercado mundial é que sua matéria-prima está cara porque falta gado, mas também porque há uma capacidade instalada que supera a oferta de gado.

Porém, no mercado internacional a carne uruguaia segue sendo valorizada. Em março, a carne bovina refrigerada chegou a valer US$ 5.919 por tonelada e esse é o segundo valor mais alto da história, porque o recorde foi de US$ 5.970 por tonelada.

A oferta de gado caiu e a maioria dos frigoríficos, por mais que algumas plantas tenham fechado temporariamente, segue lutando por gado para se manter aberto, operando. "Quando se gera um problema de matéria-prima, desestabiliza-se o mercado. A defasagem entre capacidade ociosa e oferta de gado disponível esteve em equilíbrio durante muitos anos e agora esse equilíbrio se perdeu", disse Iriarte. Isso faz com que, entre os frigoríficos, haja uma busca por cobrir seu ponto de equilíbrio e não perder mais dinheiro.

Essa competição está fazendo com que hoje a carne esteja quase no mesmo preço que nos Estados Unidos, porque os abates se mantêm altos e existe uma sobre-capacidade na indústria frigorífica instalada que aumentou mais com a abertura de nove plantas.

FONTE: El País Digital, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

Nenhum comentário: