"Todas as missões técnicas foram favoráveis aos nossos controles sanitários. Até elogiaram o nosso avanço", diz Otávio Cançado. "Mas a UE não quer revogar a Normativa 61 (que impôs a lista). E não há mais razão para a existência disso do ponto de vista técnico". A lista foi imposta pela UE no início de 2008, após um surto de aftosa em Mato Grosso do Sul e no Paraná ocorrido em 2005.
Na reunião de ontem, o diretor de Relações Bilaterais Internacionais da Diretoria-Geral de Saúde e Consumidores, Lorenzo Terzi, afirmou que "tudo tem seu tempo", mas que a comissão não trabalha com nenhum prazo para o fim da exigência. O próprio ministro da Agricultura, Wagner Rossi, já fez pedido semelhante ao comissário europeu, mas obteve a mesma resposta evasiva. "Ouvimos que não haverá avanço no curto prazo, mas apenas no médio e longo prazos", disse o diretor do ministério.
Uma nova missão veterinária europeia estará em alguns dias no Brasil para reavaliar os controles nas carnes processadas. Mas o otimismo de Brasília com qualquer avanço é bastante contido.
Nos bastidores, o governo avalia que é um momento político complicado para a UE. A cúpula europeia teme que um avanço brasileiro nesse mercado prejudique a lenta recuperação de seus produtores, cujas exportações começam a se recuperar. O Brasil chegou a vender US$ 1,1 bilhão em carnes aos europeus, em 2007, mas as barreiras reduziram o volume para menos de US$ 400 milhões.
O Brasil também busca concessões na questão de alimentação de animais abatidos para atender a chamada "Cota Hilton" - 10 mil toneladas de carne nobre que as indústrias nacionais têm direito de exportar à UE com tarifas reduzidas. O país quer a permissão para o uso de suplementos adicionais na dieta dos animais que hoje é feita exclusivamente a pasto. Os europeus foram bastante claros ao afirmar que não poderiam ceder porque a regra foi determinada em negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC). "Para eles, essa é uma questão difícil de aceitar", avaliou Otávio Cançado, após reunião na Direção-Geral de Agricultura da UE.
As autoridades brasileiras negociam, ainda, a adoção de regras mas flexíveis para o rastreamento e o controle do trânsito de animais abatidos com destino à UE dentro da "Cota Hilton". Nesse ponto, há mais chances de sucesso, avaliam os negociadores. Os europeus aceitam outras formas de controle que não sejam os brincos bovinos. "Nos deram abertura para avaliar novas propostas", relatou o diretor do Ministério da Agricultura. O uso da Guia de Trânsito Animal (GTA) eletrônica seria um possível substituto ao sistema de brincos. "Acho que temos espaço para fazer isso", disse Cançado.
Nas reuniões de ontem, os negociadores brasileiros também retomaram o diálogo com a Direção-Geral de Comércio sobre as tratativas para um futuro acordo Mercosul-UE. No início de julho, haverá uma reunião bilateral para apresentar as "listas de consenso" na área agrícola na tentativa de destravar as arrastadas negociações. Desde 2004, os blocos trocam "ofertas" consideradas insuficientes por ambos os lados. Um documento-base deve conter propostas para etanol, suco de laranja, açúcar e carnes.
"Eles precisam de nossos produtos"
O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec), Fernando Sampaio, estará hoje no Parlamento Europeu no workshop em que o Brasil buscará defender a proposta dos países do Mercosul para fechar o acordo com a União Europeia.
"Queremos mostrar que não é o acordo UE-Mercosul que vai prejudicar a agricultura europeia", disse Sampaio, de Bruxelas. A Abiec mostrará aos parlamentares dados e previsões de órgãos da própria UE indicando que as importações de carne bovina representaram apenas 5,37% do total consumido no bloco no ano passado.
Estimativas da DG Agri e do Fórum Mercosul da Carne indicam que o consumo de carne bovina na UE em 2010 somou 8,151 milhões de toneladas (equivalente-carcaça). Desse volume, 438 mil toneladas foram importadas e cerca de 90% foram provenientes do Mercosul.
Os exportadores brasileiros também vão usar projeções que mostram que a produção de carne na UE está recuando. Portanto, o bloco precisa dessas importações, observa Sampaio. A estimativa da DG Agri e do Fórum Mercosul da Carne é de que o consumo de carne bovina na UE em 2020 será de 7,899 milhões de toneladas (equivalente-carcaça). Desse volume, 7,83 % serão produto importado.
A proposta do Mercosul no acordo com a UE é de uma cota de importação de 300 mil toneladas (sem tarifa) de carne bovina, ou 3,7% do consumo total do bloco europeu, segundo a Abiec.
Sampaio defenderá ainda que não há justificativa técnica para as restrições impostas pela UE à carne bovina brasileira. Entre elas está a exigência de que a carne exportada seja proveniente de bois rastreados de uma lista limitada de fazendas. As restrições às vendas dentro da Cota Hilton de cortes nobres também estarão na pauta.
O presidente da Abiec, Antônio Camardelli, lembra ainda que a União Europeia ganhou competitividade em relação ao Brasil recentemente. A razão é a convergência dos preços da matéria-prima (boi) e o câmbio.
Fonte: AVICULTURA INDUSTRIAL
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