os mais valorizados do Brasil
P ara entender as razões que fizeram a raça Aberdeen Angus tornar-se a preferida entre tantas outras europeias que competem pelo gosto do mercado, antes é preciso voltar no tempo, até a década de 90, para conhecer melhor a história de um grupo de pecuaristas gaúchos pioneiros, que enxergaram o potencial desta raça, criada no Brasil desde 1906, em função de sua facilidade de criação, precocidade, fertilidade e, ainda, por seus atributos de qualidade de carne, reconhecidamente macia e saborosa, seguindo o exemplo de outras associações de criadores da Raça Angus no mundo.
Após anos de planejamento, a efetivação das bases do “Programa Carne Angus Certificada”, em 2003, começou a dar forma a esse projeto. Anos mais tarde, o mesmo transformou-se num verdadeiro pilar da raça, atualmente sustentando um amplo conjunto de ações e programas de fomento técnico e promocional dentro da raça em conjunto com a chancela Associação Brasileira de Angus (ABA) e dezenas de núcleos regionais de criadores espalhados pelo Sul, Sudeste e Centro- Oeste do País.
Joaquim Mello, ex-presidente da ABA e atual diretor do programa, pertenceu a esse grupo e relembra até com certo saudosismo do primeiro ano após a implantação, quando o volume de animais abatidos mal superava as 18 mil cabeças.
Mello é pecuarista há quase meio século e se diz um entusiasta desse trabalho de fomento. Isso porque acredita que a carne de qualidade é a principal alavanca capaz de transformar o país no principal fornecedor de carne com valor agregado para o mundo. “É importante frisar que a carne Angus é aquela que o consumidor quer devido a tudo aquilo que ela oferece em termos de maciez e sabor”, destaca.
Reynaldo Salvador, diretor da Cia Azul Agropecuária, também participou da criação do programa no período em que dirigiu a ABA, entre 2003/04, e relembra que a ideia por trás do projeto tinha o duplo propósito de fazer do Angus uma raça 100% comercial, e que pudesse imprimir uma visão de cadeia produtiva ao velho modelo tradicional de criação da pecuária de corte, desenvolvida a partir de uma visão de processo no qual vários agentes participam até a obtenção do produto final.
Pouco mais de oito anos após a criação, a situação do programa é bastante diferente: o volume de abates supera as 150 mil cabeças (processadas ano passado) e há 11 plantas frigoríficas responsáveis pelo processamento e comercialização das marcas com certificação da ABA para importantes redes de varejo especializado no Brasil e no exterior.
Na opinião dos especialistas e pecuaristas com larga experiência no mercado de carne, já existem razões suficientes para acreditar que esse projeto de tornar a carne Angus Certificada nacionalmente conhecida encontrará o sucesso pretendido no futuro próximo. O interesse crescente pela genética da raça, que é vista como aquela capaz de produzir carne com características realmente superiores de padronização e qualidade, mostra sinais positivos na venda de sêmen Angus, cujo volume praticamente triplicou nos últimos cinco anos e ultrapassa, hoje, 1,8 milhão de doses comercializadas, segundo relatório divulgado em março pela Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial). “Com isso, o Angus já é a segunda raça de corte do país no volume de doses de sêmen vendidas”, salienta Felipe Moura, diretor de marketing da ABA.
Outra sinalização importante vem do mercado de reposição, que também registra liquidez e valorização do gado Angus em leilões de reprodutores, matrizes, e também nas muitas feiras de terneiros na região sul, com valores, em média, 15% acima dos pagos pelo mercado local.
As feiras de terneiros Angus apoiadas pela associação agora no outono nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul estão demonstrando esse interesse do produtor de novilhos pela produção de animais para o programa. Para o diretor de marketing da ABA, quando o pecuarista sai da sua fazenda e se dirige a um dos muitos remates ou feiras de terneiros apoiados pela Angus e seus criadores pelo país, ele está em busca de adquirir um pacote de serviços e agregação de valor.
Filé Mignom Carne Angus Seara
Aos animais terminados e abatidos nas unidades dos frigoríficos parceiros nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o pagamento para animais do programa já oferece prêmios de até 6% sobre a tabela CEPEA/ Esalq, com fêmeas podendo receber preço de macho mais 5% de premiação. “O mesmo acontece na região Sul, onde os criadores de Angus já recebem premiações de até 8% acima do preço referência pago pelos frigoríficos da região para produtos machos, e preços de macho + premiações similares para fêmeas Angus certificadas”, explica Moura.
Na venda de reprodutores, a raça se destaca nacionalmente. Entre as europeias, Angus foi a que mais faturou em leilões de reprodutores e matrizes no Brasil, superando os R$ 25 milhões de reais em comercialização no ano de 2010.
Parcerias multiplicam
A busca por parcerias visando à maior agregação de valor aos produtos do programa Angus se multiplica com a entrada de empresas que atuam em diferentes elos da cadeia da carne bovina. Hoje, são seis marcas comerciais produzidas no mercado pelos parceiros VPJ Alimentos, Frigorífico Silva, Marfrig Alimentos e Frigorífico da Gruta.
O Programa Fomento Angus Marfrig, lançado em 2007, é uma extensão do Programa Carne Angus Certificada que tem como base abastecer as plantas frigoríficas do grupo com produtos Angus de genética diferenciada e padrão exclusivo de tipificação de carcaça, idade e boas práticas de criação, características que atendem às necessidades específicas da indústria de alimentos e ainda proporcionam melhor remuneração aos produtores participantes, destaca Luciano Andrade, gerente de fomento da Marfrig.
Segundo Andrade, a Marfrig garante a compra de todos os animais nascidos (machos e fêmeas), pagando o preço do boi gordo (base Esalq a prazo) da região mais próxima da fazenda, além da bonificação especial”, conclui o gestor do Fomento Angus Marfrig, segundo o qual, no ano de 2011, a iniciativa foi estendida para o RS e hoje está disponível para produtores dos estados do RS, PR, SP, MS, MT e GO.
Ainda no Sul, a Angus mantém parceria com o frigorífico Silva, de Santa Maria/ RS, que também mantém sistema de premiação para Angus e cruzas aprovadas para o Programa Carne Angus Certificada. Gabriel da Silva Moraes, diretor comercial do Frigorífico Silva, afirma que o posicionamento da empresa sempre foi o de oferecer produtos de qualidade diferenciada para uma clientela formada por consumidores de maior poder aquisitivo. “A ideia é fazer escala para abastecer o comércio com volume maior, que permita manter os preços em patamares acessíveis também ao consumidor médio”, diz.
Na região do Brasil Central, a VPJ Pecuária, do produtor Valdomiro Poliselli Júnior, desenvolve projeto de integração para pecuaristas locais que visa a criar uma oferta de animais cruzados Angus de alto valor genético para abastecer nichos específicos de mercado nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, em especial redes de restaurantes, hotéis e varejo especializado em carne de qualidade, por meio da marca “VPJ Prime”, certificada pelo Programa Carne Angus.
“O projeto da VPJ Pecuária nasceu certificado pelo programa Angus, uma das primeiras empresas a receber essa chancela de qualidade”, salienta o criador, que acredita que a genética Angus confere credibilidade ao produto. Esta é uma visão compartilhada por dezenas de criadores, técnicos e gestores da Associação Brasileira de Angus, que acreditam na força da carne Angus enquanto instrumento de valorização e, principalmente, na qualidade do novilho Angus enquanto produto diferenciado em qualidade e padronização.
FONTE: AG - A Revista do Criador
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