sexta-feira, 24 de junho de 2011

MUNDO - ANGOLA Criadores de gado receberam apoios


Um grupo de 22 criadores receberam gratuitamente do governo da província de Cabinda 365 cabeças de gado bovino para o fomento da actividade pecuária na região, anunciou esta semana o secretário da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas. Em declarações ao Jornal de Angola, João Tati Luemba referiu que os animais distribuídos aos criadores locais constam de um lote de 800, adquiridos de forma faseada na República Democrática do Congo (RDC) pelo governo da província, um investimento de 1,2 milhões de dólares.
Tati Luemba revelou que o governo preferiu comprar gado da RDC por ser uma região produtora da espécie “ndamba”, resistente à doença do sono e adaptável ao clima tropical húmido de Cabinda.
O governo provincial compra directamente ao criador congolês, em Ikolufuma, por dois mil dólares o boi, enquanto a vaca fica por 1.100 dólares, por ser uma espécie rara e específica da RDC. O valor global investido na compra das 365 cabeças de gado bovino inclui também as despesas de transporte, taxas de importação e de prestação de serviços.
A distribuição do gado abrangeu criadores de Belize, Cacongo e maioritariamente do município sede (Cabinda), por ser ali que a actividade ganadeira tem forte implantação e crescimento.
Os produtores receberam entre quatro, 10, 15 e 20 animais, de acordo com as condições pré existentes para a criação de gado, ou seja, área devidamente vedada e inspeccionada pelos Serviços Veterinários. Além disso, são obrigados a assinar um termo de responsabilidade, dando garantias da devolução gradual ao governo, através da secretaria provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, do gado recebido, dentro do ciclo de reprodução de dois anos, “para possibilitar que haja mais beneficiados e se dê sequência do Programa de Fomento Pecuário”, explica Tati Luemba.
“Estamos a sensibilizar os criadores no sentido de honrarem o compromisso da devolução do gado, porque ele é distribuído gratuitamente. Fizemos uma selecção minuciosa para apurar empresários agrícolas com idoneidade financeira e experiência na pecuária e não o demos a qualquer aventureiro”, acrescentou, numa clara referência à atitude de má fé evidenciada por certos criadores locais que, há cerca de quatro anos, receberam gado bovino das autoridades locais para o fomento da pecuária, mas depois deram outros fins aos animais.
Para o sucesso do Programa de Fomento Pecuário, Tati Luemba considera ser imprescindível o funcionamento do sistema revolving, que consiste em receber e devolver, para que o projecto tenha corpo e não pare quando o governo deixar de financiar a compra de gado bovino. A título de exemplo, referiu que um sistema semelhante já vigora a nível do Instituto de Desenvolvimento Agrícola (IDA). “Nós introduzimos nesse sector e com grande sucesso o sistema revolving, ou seja, reembolso que consiste em darmos dois quilos de semente de jinguba ao agricultor e este depois das colheitas devolve-nos um quilo”.



Indústria alimentar

O secretário da Agricultura está optimista quanto aos resultados do Programa de Fomento Pecuário, daí que já pense em envolver outros empresários locais no processo, desenvolvendo pequenas agroindústrias, como fábricas de rações e unidades de transformação de produtos de origem bovina, caprina e suína.
“Estamos a discutir com pequenos e médios empresários a possibilidade de se investir em pequenas indústrias. Nós precisamos rapidamente, na província, de uma fábrica de rações, porque já se nota a criação intensiva de suínos. Isso implica termos ração, milho e vitaminas”, disse, salientando também a necessidade da revitalização dos matadouros e talhos, para abate e comercialização de carne bovina, suína e caprina.
Tati Luemba não tem dúvidas que este programa impulsionado pelo governo da província há cerca de quatro anos é uma das soluções para combater a fome e erradicar a pobreza num horizonte temporal de curta duração, porque, além de propiciar alimentos à população, será fonte de rendimento para muitas famílias.
Acrescentou que o programa visa tornar a província auto-suficiente em produtos de origem bovina, suína e caprina, esclarecendo que a criação de gado bovino já apresenta “bons resultados”.

Números

No âmbito do Programa de Fomento Pecuário, a província possui cerca de quatro mil cabeças de gado bovino, 15 mil suínos, nove mil caprinos, 6.822 ovinos e um número elevado de aves.
Para o responsável da Agricultura, se o governo continuar a investir neste programa e também der incentivos à classe empresarial agrícola local, Cabinda atingirá rapidamente a auto-suficiência alimentar, porque, disse, “temos solos férteis e homens com vontade de transformar a terra em fonte de alimentos”.
“Cabinda não tem empresários agrícolas para grandes investimentos. O Estado deve dar ajuda, apoiando o pequeno grupo de empresários locais que investe no sector agropecuário, para podermos tornar a província auto-suficiente e paulatinamente combater a fome e a pobreza”, disse.
O também engenheiro agrónomo considera que o governo da província deve investir seriamente em equipamentos de mecanização agrícola, construção do porto pesqueiro e de pequenas unidades agroindustriais de transformação de produtos de origem animal e de rações. “Se isso acontecer, em pouco tempo a fome será um assunto do passado”, afirmou.
“Já identificámos os principais nós do constrangimento alimentar em Cabinda. São três: a falta de mecanização agrícola, de unidades agroindustriais e um porto pesqueiro”, referiu.
Tati Luemba considera de extrema importância os equipamentos de mecanização agrícola, porque estes permitem desbravar grandes hectares de terra para cultivo em pouco tempo, enquanto as unidades agroindustriais permitem, por um lado, melhorar a qualidade dos produtos de origem animal e, por outro, a produção de rações, alimento indispensável para aves e suínos, duas espécies que já apresentam um número expressivo de animais na província.

A voz de um criador

O criador de gado bovino José Macibo Futi é uma das poucas pessoas em Cabinda que há 15 anos se dedica de corpo e alma à actividade pecuária, na localidade do Vale do Yabi, 17 quilómetros a sul da cidade de Cabinda.
A experiência que possui permite-lhe fazer uma avaliação sobre o Programa de Fomento Pecuário. Embora tenha manifestado um certo descontentamento pelo facto de não ter sido contemplado com nenhuma cabeça de gado, na recente distribuição, aplaude o programa.
Detentor de 85 cabeças, referiu que tudo aquilo que hoje tem é fruto do seu empenho pessoal. “Comecei a criar gado bovino com a ajuda de um parente que vive na RDC, que me enviou cinco cabeças de gado que fui criando. Mesmo depois de ter morrido um deles, hoje o resultado está à vista de qualquer pessoa que visite o meu curral”, disse. Acrescentou que a recente distribuição que a Secretaria Provincial da Agricultura fez devia abranger, em primeiro lugar, as pessoas com experiência e que já demonstraram resultados positivos.
Como quem espera sempre alcança, José Futi, que possui também 22 cabeças de caprinos e 30 de suínos, acredita em dias melhores e que o governo saberá, no devido momento, dar o seu apoio aos empreendedores. “Já recebi garantias do responsável da Agricultura que irá apoiar-me na próxima distribuição. Estou expectante e aguardo por este dia”, afirmou.
José Futi explicou que não é fácil criar gado bovino em Cabinda, por ser uma região não tradicional. “Muitas pessoas que receberam gratuitamente do governo gado, há anos, fracassaram porque não têm vocação nem tão-pouco espírito de sacrifício”, disse, acrescentando que “beber” de quem já tem alguma experiência ajuda a crescer.

FONTE: JORNAL DE ANGOLA

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