quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Indústria processadora de carne enfrenta forte pressão


José Vicente Ferraz*
Reprodução permitida desde que citada a fonte
 
O anúncio recente do pedido de recuperação judicial do frigorífico Mondelli, de médio para grande porte e tradicional no Estado de São Paulo, volta a chamar a atenção para as dificuldades que a indústria frigorífica processadora de carne bovina vem enfrentando nos últimos anos.

Uma conjunção de fatores tem colocado sob pressão essa agroindústria brasileira.

No caso das empresas médias e de pequeno porte, observa-se nos últimos três anos uma considerável quantidade das que são levadas a recuperação judicial.

Em parte, é claro, isso se explica como resultado do próprio processo de concentração no setor.

Existem, entretanto, fatores que atingem também as gigantes. O custo relativamente alto da matéria-prima (os animais para abater) corrói as margens operacionais da indústria.

Pois, ao contrário do que dizem alguns, repassar custos maiores aos preços não é tarefa simples, já que existe a concorrência de carnes substitutas. Além disso, o varejo, cada vez mais concentrado e, portanto, com maior poder de barganha, resiste a aceitar aumentos que lhe reduzam margens e vendas.

O câmbio, barreiras às exportações, concorrência com outros exportadores, além das naturais contingências de mercado, fazem com que as receitas de exportação obtidas em mercados que permitem melhores margens de lucratividade se comprimam.

Isso afeta a rentabilidade, além de reduzir a capacidade de captação de recursos baratos que financiam as exportações, o que acaba pressionando os fluxos de caixa.

Também é preciso considerar que o processo de transformação pelo qual passou a indústria frigorífica implicou forte endividamento, que traz despesas financeiras consideráveis.

E o crescimento muito rápido das empresas gerou uma complexidade administrativa altamente desafiante.

Um aspecto preocupante dessa situação é que alguns desses fatores negativos ainda devem estar presentes por algum tempo.

Exemplos são os casos do custo elevado da matéria-prima, que muito provavelmente ainda permanecerá nesses patamares até pelo menos o fim do ano. E também que dificilmente se poderá contar com exportações muito melhores no curto prazo.

Para as empresas menores, com menos poder de barganha, menos diversificadas e dependentes de mercados mais restritos, o desafio deve ser ainda maior.

Talvez a única alternativa de sobrevivência em médio e longo prazo seja se especializar em nichos específicos e buscar formas de se relacionar com os consumidores de formas inovadoras.

*José Vicente Ferraz é engenheiro-agrônomo e diretor técnico da Informa Economics FNP.

Fonte: Folha de São Paulo

Nenhum comentário: