terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Viabilidade do Confinamento em 2012


Rogério Marchiori Coan (1) / Lygia Pimentel (2)
lygia@bigma.com.br
Reprodução permitida desde que citada a fonte
 
Se for para arriscar um palpite objetivo para explicar a diferença entre o sucesso ou fracasso no confinamento, o mais evidente seria a capacidade decisória. É a antecipação tanto dos problemas quanto das oportunidades que o negócio apresenta diante das variações do mercado. E olha que durante o ano são muitas as variações. É só acompanhar o mercado pecuário para ver.

Nesse sentido, para se elaborar uma decisão adequada, coerente, é preciso estabelecer critérios de planejamento, que envolvem uma séria de variáveis. Entre elas podemos citar algumas, como: número de animais a serem confinados, peso de entrada e saída, período de confinamento, ganho de peso almejado, alimentos disponíveis e preços, tipo de dieta (baixo concentrado ou alto) e, logicamente, a remuneração da arroba de boi gordo na época de venda.

Essas são, portanto, informações básicas para que o pecuarista possa avaliar os custos e resultados do confinamento e decidir, sobre a utilização da tecnologia em menor ou maior escala naquele ano.

Quando falamos em menor ou maior escala é porque, nessa situação, estamos analisando o confinamento como uma estratégia para a entressafra, onde no período seco do ano - e estes têm sido drásticos - parte dos animais é terminada no confinamento, como forma de preservar as pastagens de uma taxa de lotação excessiva, o que resultaria em degradação das mesmas, caso isso acontecesse.

Bom, 2012 promete ser um ano pleno de incertezas e boa volatilidade. A começar pela oferta de animais, exportações, consumo interno, cenário macroeconômico e também variações do preço dos grãos, boi magro e remuneração do boi gordo, a dúvida que fica é: como fica a viabilidade do confinamento em 2012 nos principais estados confinadores? Para responder a essa pergunta temos que realmente simular os custos e resultados do confinamento. Para tanto, vamos analisar (Tabela 1) os preços dos principais insumos nos estados de São Paulo (SP), Minas Gerais (MG), Mato Grosso do Sul (MS), Goiás (GO) e Mato Grosso (MT).

Para o boi magro (12@), a cotação da Bigma Consultoria indicou para hoje em SP o valor de R$1.218,36, para MG R$1.1.31,36, para MS R$1.128,00, para GO R$1.094,52 e para MT R$1.104,60.

Em relação ao custo operacional, este foi estimado em R$0,85/cabeça/dia para todos os Estados.

Tabela 1. Preços dos insumos por estado.


Diante das opções e preços dos insumos para cada estado, procurou-se desenvolver as dietas de mínimo custo e lucro máximo com o programa RLM 3.2. Os animais considerados no cálculo são da raça Nelore, com peso inicial de 360 kg (12@) e final de 515 kg (18,03 @ - RC: 52,5%), tamanho corporal médio, machos não castrados e com desempenho da ordem de
1,60 a 1,68 kg/dia. Com essas informações, realizamos o cálculo do custo da arroba produzida e da arroba engordada no confinamento, conforme podemos visualizar no gráfico 1.

Gráfico 1. Custo da arroba engordada e da arroba produzida no confinamento, por Estado.


Ao analisarmos o gráfico 1, é possível avaliar que diante de uma maior precificação dos alimentos e também do boi magro para o estado de SP, maiores foram os custos da arroba produzida e também da arroba engordada. Situação contrária foi observada no estado do MT, onde tivemos os menores custos para estas variáveis, respectivamente.

Em relação à composição dos custos operacionais totais no confinamento, no gráfico 2 podemos observar a representação dos mesmos, por estado.

Gráfico 2. Representação dos custos de produção no confinamento, por Estado.


Ao analisarmos o gráfico 2, pode-se observar que quanto maior o preço do boi magro e dos alimentos, maiores foram as participações desses componentes no custo de produção total. Em SP, estado com maior precificação do boi magro e da nutrição, os alimentos representaram 24,22% e o boi magro 68,70% dos custos totais de produção. Observa-se que, de maneira geral, os alimentos representaram de 22,73% (MT) a 24,71% (GO) dos custos e o boi magro de 67,67% (GO) a 67,90% (MG).

Para o cálculo do lucro operacional (R$/cabeça) consideramos os preços dos alimentos e do boi magro, cotados em 30 de janeiro 2012. Para a remuneração da arroba, consideramos diferentes cenários, partindo de uma remuneração mínima de R$90,00/@ e máxima de R$110,00, com variação de $5,00/@. No gráfico 3 poderemos avaliar a estimativa do lucro operacional diante dessas variáveis.

Gráfico 3. Lucro operacional (R$/cabeça) do confinamento, diante de diferentes cenários.


No gráfico 3, podemos avaliar que com a remuneração mínima de R$90,00/@, em praticamente todos os Estados, com exceção do MT, a operação de confinamento implicou em prejuízo operacional. Com uma remuneração de R$95,00/@, somente no Estado de SP não foi possível viabilizar o confinamento, que para se tornar viável demandaria de uma remuneração mínima de R$100,00/@. Já com o mercado do boi gordo em R$105,00/@, em todos os Estados avaliados o confinamento se tornaria uma atividade interessante do ponto de vista econômico.

É importante lembrar que na entressafra conta-se com uma oferta mais restrita de bois magros. Com isso, é natural que os custos do confinamento aumentem no período, independentemente do Estado em que se localiza o confinamento. Além disso, conforme citado no inicio desse texto, para o pecuarista que usa o cocho como estratégia, dificilmente teremos os animais de 12 @ chegando ao confinamento tão precificados, ou seja, é natural que nos sistemas de recria/engorda ou ciclo completo o boi magro tenha um custo menor de produção, aliás é exatamente essa a vantagens desses sistemas, quando comparado com o confinamento negócio, que parte do principio de comprar os bois e os alimentos no mercado.

Vale a pena olhar para o mercado futuro e ficar “antenado” quanto aos preços dos alimentos, do boi magro e a remuneração do boi gordo, pois são eles que ditam as regras do jogo, independentemente do estado.
Aliás, o mercado futuro tem trabalhado com expectativas relativamente pessimistas neste início de ano, quando se considera o preço a ser pago na próxima entressafra. Ao longo da história, já fomos mais otimistas, mas os últimos anos têm mostrado pessimismo em relação ao período seco do ano. Observe:

Tabela 2. Mercado em janeiro: físico futuro em períodos passados.

Fonte: Cepea/BM&FBovespa/Bigma Consultoria

Um detalhe interessante a se observar: o ágio médio que o futuro desenha para o contrato de outubro nos meses de janeiro é de 6,64%, ou seja, a expectativa “normal” do mercado futuro no início do ano é de que a sazonalidade se faça valer e que o boi gordo se valorize na entressafra.

Outra observação importante é que desde o início da série, os anos mais pessimistas acabaram surpreendendo com valorizações fortes, exceto 2009 e 2011. O contrário também é verdadeiro e basta conferir observando o resultado de 2004, em que o mercado futuro esperava valorização de 14% para a entressafra, que decepcionou e subiu apenas 0,9%. Quem usou o futuro naquele ano certamente ficou satisfeito.

No caso de mercados pessimistas em que a queda se concretizou, temos algumas justificativas. Em 2009, o motivo foi o período pós-crise, que trouxe muita turbulência também ao mercado pecuário. Aliás, foi em 2009 que assistimos mais de 50 plantas frigoríficas entrarem em paralização ou pedido de recuperação judicial. Já em 2011, o reflexo da explosão de preços vista em 2010 trouxe um crescimento de 30% ao volume de animais confinados. A crise internacional e o dólar frouxo também tiraram a atratividade da nossa carne exportada diante dos clientes internacionais e a demanda interna viu dificuldades em expandir diante da inflação forte registrada entre 2010 e 2011.

Dito isso, fica claro que o mercado futuro normalmente aponta algumas oportunidades fabulosas à frente e que podem fazer toda a diferença no planejamento do confinamento.

Hoje, o contrato de boi gordo com vencimento em outubro tem um ágio de apenas 1,75% em relação ao físico. É a quarta menor remuneração desde o início da série histórica, o que pode desestimular quem pensa em confinar e trazer um reflexo de pouca oferta à frente. Sem falar que o ano passado não apresentou boa remuneração, com exceção da segunda semana de novembro. Isso também pesa no momento da decisão. O ponto é que neste momento fica difícil pensar em travar a produção com o mercado futuro. A melhor alternativa indubitavelmente seria o mercado de opções, que além de barrar a queda, permite aproveitar uma possível alta, mas tem um custo maior.

Tabela 3. Ágio do mercado futuro para outubro em relação ao mercado físico em diferentes períodos.

Fonte: Cepea/BM&FBovespa/Bigma Consultoria

Na tabela acima dá pra enxergar que o início do ano normalmente é menos otimista do que os meses à frente, mas deixa claro também que o planejamento começa agora.

No caso da alimentação, as perdas devido à estiagem trouxeram alta volatilidade e nova preocupação a quem não fez estoque nem travou via bolsa (sem falar em quem ainda não conta com pastagens em boas condições e suplementa com energéticos no cocho).

Afinal de contas, ainda estamos em janeiro. Assim sendo, mesmo com uma produção maior os preços continuam altos e interferem negativamente no resultado. Mesmo assim, o milho e a soja precificados na BM&FBovespa já refletem a expectativa de aumento de área plantada para a safra de verão e a safrinha e algumas oportunidades começam a surgir.

Portanto, além do planejamento técnico, é fundamental que se faça o planejamento estratégico a fim de otimizar os ganhos com uma boa negociação, tanto por parte da produção como por parte dos insumos a serem comprados.

1 Zootecnista – Diretor Técnico da Coan Consultoria - rogerio@coanconsultoria.com.br
2 Médica Veterinária, especialista no mercado de Commodities e consultora da Bigma Consultoria - lygia@bigma.com.br


Nota da Bigma Consultoria: Nos dias 7 e 8 de março, em Ribeirão Preto, acontece a Sétima edição do “Encontro Confinamento: Gestão Técnica e Econômica”. As inscrições já estão abertas e maiores informações podem ser obtidas no site Gestão e Confinamento .

A Bigma Consultoria apoia o evento e participa com duas palestras sobre mercado de commodities e tendências para a pecuária do futuro.

Confira!!! 

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