Autor: Valor Econômico
As exportações de carne bovina do Brasil para a União Europeia (UE) despencaram 68% entre 2007-2011. Primeiro, por causa de embargo do bloco à carne brasileira, e depois pela perda crescente de importância do bloco para os exportadores brasileiros.
Em 2007, o Brasil vendeu 363,8 mil toneladas de carne bovina para o mercado comunitário, ou 65% do que os europeus importaram. Entre janeiro e novembro de 2011, foram 115 mil toneladas, 39% do total importado pela UE.
"A competitividade da carne brasileira caiu muito, por causa do câmbio, e os produtores do Brasil, no momento, estão mais interessados em seu próprio mercado interno", afirma Jean-Luc Meriaux, secretário-geral da União Europeia do Comercio de Gado e Carne (UECBV, na sigla em francês).
O número de fazendas brasileiras autorizadas a exportar para a UE caiu de 10 mil para as atuais cerca de 2 mil, depois que Bruxelas se dobrou ao lobby irlandês contra o produto do Brasil. As exigências de rastreabilidade, por exemplo, aumentaram e passaram a custar mais, de forma que o produtor brasileiro desviou as exportações para outros mercados.
Agora é a UE que quer retomar as compras de produto brasileiro. Recentemente, Bruxelas transferiu para o Ministério da Agricultura brasileiro toda a gestão para autorizar quais fazendas podem exportar. Em janeiro, Meriaux tratou com o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, em Berlim, maneiras de estimular a retomada das exportações.
Fontes da indústria exportadora de carne bovina no Brasil dizem que, apesar de os consumidores europeus estarem fugindo de cortes mais nobres, a UE de fato precisa importar, até porque a produção nos países do continente em geral está menor, reflexo de redução de subsídios e aumento de custos. Além disso, o produto europeu ainda é mais caro que o brasileiro.
Nesse cenário, o Brasil tem vantagem, já que a oferta doméstica de gado bovino deve se recuperar nos próximos anos enquanto em alguns países concorrentes ainda não há aumento da produção. O Uruguai, por exemplo, está retendo matrizes, e o Paraguai sofre os efeitos dos dois recentes focos de febre aftosa.
Uma fonte de um grande frigorífico brasileiro lembra que, apesar de os preços da carne estarem elevados, a alta já foi maior. Os preços do filé mignon na exportação, estavam na casa dos US$ 19 mil por tonelada em janeiro. No ano passado, bateram US$ 23 mil, mas ainda bem distante dos US$ 30 mil de 2008, antes do recrudescimento da crise global.
José Vicente, da Informa FNP, considera, porém, que a crise na Europa pode estimular ímpetos protecionistas, ao contrário do que sinalizou Jean-Luc Meriaux. "Em momentos de crise, sempre há tendência de os países ficarem mais protecionistas. Numa crise severa, com depressão de consumo, [o país] não vai permitir que seu mercado seja invadido".
Mas Vicente minimiza o impacto de uma eventual redução ainda mais acentuada das importações da União Europeia, justamente porque o mercado perdeu importância para o Brasil. "A exportação para a Europa já não é tão importante. Já vem ruim, pode piorar, mas não fará tanta diferença", diz o analista.
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