sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Não adianta esperar milagre

Escalas de abate, preço do dianteiro e preço do frango… o que dizer dessa combinação?
A última semana foi morna, não é? Nada de boas notícias que nos alegrassem muito, exceto uma: o frango parou de cair.
Ufa! Já é uma excelente notícia, afinal de contas, a diferença entre o preço do frango e o valor do dianteiro bovino, principalmente, concorrem pela preferência da dona de casa. Como assim? Bom, ocorre que quando o frango está muito barato em relação à carne de dianteiro, todo mundo se entope de frango.
Tudo bem, tudo certo. VOCÊ pode não se entupir de frango, pode ser um fanático por carne bovina, daqueles que come quase crua, sangrando e tudo o mais. Tudo bem. Mas a dona de casa classe C, maioria dominante entre os consumidores hoje, ela sim. Ela substitui a carne bovina quando encontra mais barato, principalmente nas refeições do dia-a-dia, no meio da semana. Isso ajuda a fazer a diferença no orçamento de fim de mês.
O que observamos desde o início de fevereiro é algo que tende a se ajustar rapidamente, na maior parte dos casos. O dianteiro bovino no período reagiu 5,9% enquanto o frango despencou 6,1%. Movimentos opostos para carnes que disputam seu lugar na mesa da dona de casa e quem sai perdendo nessa somos nós.
O resultado disso é que a carne bovina reagiu de modo interessante no início de fevereiro, exatamente como era esperado. Mas a partir de determinado ponto, ficou difícil reagir ainda mais. Entretanto, o traseiro bovino praticamente manteve seus preços, o que deixou a demanda por esse corte mais firme, já que a competição dele com o frango é menor (já que seus cortes são vistos como mais nobres).
Em contrapartida, as escalas andaram ligeiramente, especialmente para os frigoríficos maiores, como é de costume. Alguns pequenos se mantêm apertados com as compras. De toda forma, com os preços do boi um pouco mais firmes e com complicações dentro da porteira – quando falamos em pastagens –, o pecuarista vendeu gado magro e também animais escorridos numa tentativa de aliviar a pressão. O ataque de cigarrinhas está comendo solto por aí, pessoal. Quem convive com esse problema, sabe.
Aí, pra não ajudar muito, o consumo do traseiro fica firme e o de dianteiro concorre com o frango numa disputa desleal. Só podia dar nisso: escalas entre 5 e 7 dias em São Paulo.
Como eu disse, a boa notícia da semana é que o frango começou a subir depois de atingir o fundo do poço e seu menor valor nos últimos 2 anos em termos nominais. Em termos reais, então, prefiro não comentar por enquanto.
Gráfico 1. Diferença entre o dianteiro bovino e o frango vivo (%)
É possível observar a flecha vermelha? Ela indica a média do período para a relação que traçamos acima. Ela também nos diz que abaixo disso o frango atrapalha o consumo de carne bovina. Acima disso, o contrário também é verdadeiro.
Mas também tem algo interessante que vem de encontro com a recente alta do frango: sempre que chegou próxima a 70% houve forte e rápida reação, o que pode ser explicado pelo dinamismo inerente à indústria do frango, que quando se vê em maus lençóis, responde com a redução produtiva. E a carne sobe em seguida.
Então, por enquanto é isso. Sem grandes novidades no curto-prazo, demanda segurando a bronca do jeito que dá, apesar do frango, e escalas de abate relativamente confortáveis, o que deixa o mercado morninho, morninho, e fica difícil esperar milagre em plena safra.
Abraços a todos e até a semana que vem.
AUTOR: LYGIA PIMENTEL

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