terça-feira, 17 de abril de 2012

Frigoríficos esperam queda de preços do boi gordo


Descarte de fêmeas deverá aumentar oferta para abate e pressionar os preços da matéria-prima nos próximos anos
A indústria de carne bovina pode experimentar uma janela de oportunidade para reduzir seus custos, equilibrar as contas e ampliar suas estreitas margens nos próximos dois a três anos, entregando aos acionistas resultados mais auspiciosos do que aqueles observados em 2011.
Analistas e participantes do mercado apostam que os preços do boi gordo, que respondem por até 85% dos custos de produção da JBS, por exemplo, deverão cair e se estabilizar em níveis mais baixos entre 2012 e 2014. Além disso, a oferta de animais para abate deverá crescer, permitindo que o setor amplie a utilização de sua capacidade instalada – atualmente, com elevados índices de ociosidade – e ganhe participação no mercado externo.
Se a previsão se confirmar, será o primeiro período de baixa nos preços e aumento na oferta da matéria-prima desde que JBS, Marfrig e Minerva abriram seu capital, em 2007, e deram início ao intenso processo de consolidação e alavancagem do setor.
Desde o início do ano, o indicador Cepea/Esalq para o preço médio do boi gordo em São Paulo recuou 7% sobre o mesmo intervalo de 2011, para R$ 96,65 a arroba. Para analistas e participantes da indústria, este é o início dos anos de baixa no chamado ciclo da pecuária – que alterna um fase altista e outra baixista nos preços da matéria-prima.
O ciclo atual começou em 2006, quando os preços médios começaram a subir ano após ano. “Teoricamente, a fase de alta acabou, e o pico dela foi em novembro de 2010″, explica Gustavo Aguiar, analista da Scot Consultoria. “De 2006 até 2010, observamos uma retenção de matrizes, com menor participação de fêmeas no abate. Em 2011, isso se inverteu”, acrescenta Aguiar, para quem a queda nos preços só deve se acentuar em 2013.
“O último período de descarte de fêmeas aconteceu entre 2003 e 2006, quando a participação de vacas no abate subiu de 31% para 38%”, conta Fabiano Tito Rosa, gerente de pesquisa de mercado do Minerva. Desde então, os pecuaristas passaram a reter matrizes, e a parcela de vacas no total abatido caiu para 30% em 2010. O processo foi interrompido no ano passado, quando essa fatia voltou a subir e atingiu 34%.
Em Mato Grosso, Estado que detém o maior rebanho do país, o abate total de fêmeas chegou a 235,9 mil cabeças em janeiro, o maior número desde 2007, conforme dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). “Estamos no início de uma fase positiva para a indústria”, diz.
Tito Rosa explica que a decisão de acelerar ou reduzir o abate de fêmeas está ligada à margem de lucro da cria de bezerros. Entre 2008 e 2010, lembra, os criadores trabalhavam com uma margem operacional de 1,5%. A taxa recuou para 1%, em 2011, e chegou 0,3% no primeiro trimestre deste ano. “Com o tempo, o preço do bezerro começa a ceder e o custo de produção não acompanha”, afirma Tito Rosa.
Para o diretor-técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, que diz que a virada de ciclo deve se confirmar apenas em 2013, a arroba do boi gordo pode cair abaixo de R$ 80 ao longo dos próximos três anos. “Será um alívio importante, mas não vamos atingir as mínimas registradas em ciclos passados, na faixa de R$ 50 a R$ 60, que seria o sonho de consumo da indústria”, pondera.
Influenciada pelo ciclo, a produção brasileira de carne bovina caiu nos últimos anos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume anual de abate caiu 5,5% entre 2007 e 2011, de 30,2 milhões para 28,8 milhões de cabeças. Só em 2011, o volume foi 1,6% inferior ao apurado no ano anterior.
Os frigoríficos têm ampla margem para aumentar esse número sem recorrer a novos investimentos. “Abater não é problema, porque a indústria tem muita capacidade ociosa – e os custos dessa ociosidade são muito elevados”, afirma Ferraz. De acordo com Tito Rosa, do Minerva, a taxa média de ocupação dos frigoríficos em operação no Brasil não passa de 65%.
O próprio Minerva, que nos últimos cinco anos investiu cerca de R$ 1 bilhão em aumento de capacidade, agora se vê diante do desafio de reduzir a ociosidade, aumentar as receita e reduzir o nível de endividamento. Atualmente, o nível de utilização de suas plantas está em 70% – a meta é elevar a taxa para 85% nos próximos dois anos.
Aumentar o número de abates também é prioridade da JBS. Com um nível de utilização de capacidade mais alto, na faixa de 85% no país, a processadora deu partida em 2012 a uma estratégia de ampliação via arrendamentos. Ao todo, a companhia já arrendou cinco plantas, o que ampliou em mais de 10% sua capacidade de abate. Em recente entrevista, Wesley Batista, presidente da empresa, avaliou que o ciclo da pecuária vive um momento positivo e que o foco da JBS neste ano é a expansão dos negócios de bovinos no Brasil.
Para Ferraz, a mudança no ciclo pecuário abre caminho para que os frigoríficos equilibrem suas contas. Segundo ele, a indústria cresceu de modo excessivo e com endividamento em um ciclo de alta dos preços da matéria-prima.
A Marfrig fechou 2011 com uma dívida líquida de R$ 7,7 bilhões – uma alavancagem correspondente a 4,39 vezes o seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). A JBS reportou uma dívida líquida de R$ 13,5 bilhões, com grau de alavancagem de 4 vezes. Já o Minerva apresenta uma dívida de R$ 1,26 bilhão e alavancagem de 3,65 vezes.
Em 2011, JBS e Marfrig amargaram prejuízo líquido de R$ 75,7 milhões e R$ 746,1 milhões, respectivamente, enquanto o Minerva reportou um lucro tímido de R$ 41,7 milhões. Ferraz acredita que os resultados podem ser mais favoráveis nos próximos anos. “As margens de lucro no setor são historicamente apertadas, mas há uma mudança estrutural em curso que provavelmente vai culminar em margens de lucro um pouco maiores”.
Fonte:  Valor Econômico

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