domingo, 3 de junho de 2012

O quão longe estamos da virada?


Lygia Pimentel é médica veterinária, pecuarista e especialista em commoditieslygia@bigma.com.br
Reprodução permitida desde que citada a fonte

Eu, sinceramente não sei. A questão é que quando o mercado cai consideravelmente, tendemos a acreditar que é o fim do mundo, que não os preços não voltam mais. Mas podemos estudar juntos pra tentar enxergar qual é a maior probabilidade histórica de essa virada ou, pelo menos, um possível vácuo de oferta acontecer agora em junho.

Vejam, como sempre trabalharemos com uma série histórica longa o suficiente para nos dar uma boa base estatística. Nosso ano de início é 1954. Confinamento naquela época praticamente não existia aqui no Brasil e, mesmo com a tecnologia ganhando representatividade na produção brasileira, ainda temos chuva, seca, sol, geada e todas as evidências das mudanças de humor sazonais de São Pedro.

Gráfico 1.


Variação da arroba do boi gordo entre maio e junho em anos anteriores – comparação entre valores reais.

Fonte: IEA/Cepea/Broadcast/Divisão AgriFatto – Bigma Consultoria.

Deem uma olhada no gráfico. Temos aí a questão da década perdida, quando a inflação fazia com que todos corressem ao supermercado para comprar mantimentos com medo que a desvalorização da moeda fizesse um estrago maior. Fiz uma conta que já vou explicar, e nela não considerei esse período porque ele foge do desvio padrão da amostra.

Bem, considerando os anos de economia um pouco mais sadia, temos uma valorização média de 1,6% para junho perante maio.

O que ocorre é que com as chuvas no começo do ano, o boi de pasto ganha peso e o pecuarista consegue negociá-lo compassadamente, conforme avança o mercado. Se sobe um pouco, ele pode vender, se cai, consegue segurar um pouco à espera de escalas mais enxutas e preços mais firmes. Entretanto, em maio chega o frio e as chuvas diminuem sua intensidade. E aí cai a qualidade das pastagens e o boi começa a ameaçar perder peso. Qual é a solução pra quem fica com o boi no capim? Vender antes que o estrago seja maior.

E é aí que conseguimos explicar porque o fundo da safra ocorre em sua grande maioria entre abril e maio. Na verdade, temos uma boa ocorrência de menores preços também em junho, mas a diferença é que daquele ponto em diante o valor pago pela arroba pega mais pressão porque a perda de qualidade das pastagens ocorre em escala geométrica.

É assim: quando vemos, o capim tá rapado e não tem mais jeito, a não ser vender ou suplementar. E como os preços estão ruins ainda por causa do aumento recente de oferta, ninguém arrisca aumentar os custos naquele momento. Então, dependendo do clima, ainda temos uma venda residual em junho, mas se você pergunta pro vizinho se ele terá boi pra vender em 20 dias, ele diz que não.

É por isso também que ainda não vemos boi de cocho saindo com volume em junho.

Estou chovendo no molhado pra quem vive da atividade e, principalmente, pra quem confina. Mas é isso aí, é bom voltarmos um pouco aos princípios básicos pra entendermos o que o gráfico nos mostra.

Outro dado interessante é saber que tivemos quedas fortes em junho que puxaram a média pra baixo, mas em 75% das vezes houve valorização da arroba nesse período. Isso também traz uma chance maior de vermos algum tipo de reação no curto-prazo.

O problema é aquele mesmo que já comentamos em semanas anteriores, contamos com uma oferta maior e, inclusive, um abate maior em 2012. Certamente isso tem influência negativa sobre a tal da “pressão” que a alta pode pegar. De toda forma, safra não dura pra sempre. A história já nos mostrou isso. E se a oferta de confinados for tanta a ponto de segurar a arroba lá embaixo, o confinamento deixa de ser vantajoso e no ano que vem a maioria não apostará nele novamente, e aí é que o mercado falará mais alto.

Um abraço a todos e até a próxima.

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