Lygia Pimentel é médica veterinária, pecuarista e especialista em commoditieslygia@bigma.com.br Reprodução permitida desde que citada a fonte |
Terminado o feriado, estamos torcendo pra que depois do fim de semana o consumo seja bom, não é mesmo? Aparentemente, a carne mostra força neste início de mês, o que é comum devido à sazonalidade com que o mercado costuma trabalhar mês após mês. Entretanto, o problema agora é que oferta de animais ainda permanece forte. Os frigoríficos têm melhorado suas margens com o barateamento da matéria prima em relação à carne no atacado, sem falar do faturamento com as exportações que também tem ajudado. Não fosse essa necessidade otimizar o funcionamento das unidades de abate em busca da diluição de custos fixos e margens melhores, talvez estivéssemos diante de preços mais baixos. Em outras palavras, há oferta maior, mas há também apetite maior por parte dos frigoríficos. Apetite esse que, diante da oferta de animais, não tem sido o suficiente para sustentar o mercado. Para ilustrar essas informações, segue nosso primeiro gráfico: Gráfico 1. Evolução do valor da arroba, do equivalente físico e do diferencial entre eles. Fonte: Cepea/Broadcast/Divisão AgriFatto – Bigma Consultoria Bom, voltando... temos no gráfico o recente comportamento de recuperação dos preços no atacado, ilustrado pela linha cinza, e a concomitante estabilidade do valor da arroba em São Paulo. Também temos a diferença entre o equivalente físico e a arroba, que normalmente é um indicador que trabalha no campo negativo. Isso significa que, normalmente, o frigorífico paga mais caro pela arroba em relação ao preço que ele consegue comercializar a carcaça. Quer dizer que o frigorífico toma prejuízo na maior parte do tempo? Não. Ele faz a diferença negativa virar positiva no momento em que vende os subprodutos, como couro, sebo e miúdos. Também faz isso ao processar a carne e vende-la desossada. Mas o que podemos observar também no gráfico é a média dessa diferença entre arroba e carne com osso tem diminuído, ou seja, tem se aproximado do campo positivo semestre após semestre e hoje concentra-se no melhor patamar dos últimos três anos. Assim como os preços da arroba, a margem do frigorífico também se comporta ciclicamente, afinal, ela depende do custo da matéria-prima, ou seja, o boi. Então quando o boi sobe (como em 2010), as margens da indústria se apertam. Quando cai, como agora, as margens se recuperam. Bem, mas estamos entrando na entressafra, não é? Não sei. São Pedro tem nos surpreendido. Após uma seca brava em plena safra, está chovendo muito em um momento em que tipicamente vemos pastos amarelos e rapados. Só pra acabar com toda a programação do pecuarista. Observe a próxima imagem. Gráfico 2. Volume precipitado em Campo Grande - MS no primeiro semestre de 2011 e 2012 (mm). Fonte: CPAO/Embrapa/Divisão AgriFatto – Bigma Consultoria * parcial até o dia 8/6. A oferta de animais gordos costuma sumir neste período, mas e se as chuvas continuarem nos surpreendendo? Será que a entressafra pode demorar mais a chegar? E se o volume maior de gado confinado atrapalhar a entressafra? E se as exportações voltarem a ser impactadas pelo cenário macroeconômico adverso? A questão é que trabalhamos com uma incerteza absurda e uma infinidade de fatores que podem comprometer ou impulsionar a oferta de animais. E, novamente, pra acabar com a volatilidade e pisar em terreno firme, só usando ferramentas financeiras como o mercado futuro, o termo e o seguro de preços, também chamado de compra de opção de venda, ou compra de PUT. Pessoal, não trabalho mais em corretora. Já trabalhei, mas hoje meu negócio é vender boi, palestras e consultoria. O que quero dizer é que não ganho nada dizendo isso. Nem um centavo com corretagem, nada. Não estou vendendo uma ideia ou um produto, mas gosto de compartilhar boas experiências e o que tenho visto é que as operações que trabalham travadas são mais tranquilas e fazem sobrar mais tempo pra gente gastar com todos os outros mil problemas que existem dentro da propriedade. Uma vez que o mercado deu a chance de lucro, por que não agarrá-la com as duas mãos? É um mal do investidor achar que a tendência favorável a ele dura para sempre, mas isso nunca acontece. Em todos os mercados é assim, ele se regula e somos pegos de calças curtas. E aí entra aquele ditado que diz que “gato escaldado tem medo de água fria”. Tem muita gente com quem converso que travou o boi futuro na bolsa, mas viu o mercado subir e teve que pagar ajuste. Não gostou da ideia e abandonou a ferramenta. Pra quem acha que o mercado pode andar muito ainda neste ano, tem uma maneira de conseguir travar um preço mínimo, mas ainda aproveitar uma possível alta. Estou dizendo que essa alta não vai acontecer? Não. Estou dizendo que o mercado vai andar muito? Também não. Só estou defendendo a ideia de, na incerteza, garantir o almoço. E esse jeito de garantir chama-se “seguro de preços”, ou compra de PUT. A compra de PUT, ou opção de venda, é a aquisição do direito de vender boi em um preço determinado através do pagamento de um prêmio, mesmo que o mercado esteja posicionado abaixo do valor que você “apostou”. Suponha que você terá um lote de animais prontos para venda em outubro. Nesta operação, você esquece o frigorífico por enquanto e compra uma opção de venda (PUT) 100, que te dá o direito de vender boi por R$100,00/@, mesmo que o mercado esteja valendo R$95,00/@ lá em outubro. Simples. Se você comprou o direito de vender em 100 e o mercado estiver em 95, você “ganha” R$5,00 na Bolsa por causa da compra da opção (PUT). Como o mercado estará valendo R$95,00/@, 95 (boi) + 5 (Bolsa) = 100. É claro que tem o custo disso e deve ser considerado na operação. Hoje, o valor de uma PUT strike 100 para outubro está em torno de R$1,90/@, o que faz com que sua trava seja feita em 98,10 – ou que seu custo de produção aumente R$1,90. Hoje, o boi vale R$92,50/@ em São Paulo. Supondo que ele suba para apenas 95,00 em outubro, você terá os 98,10 garantidos se tiver negociado a PUT. E se o mercado subir acima para 105, por exemplo, o seu investimento com a opção de venda (R$1,90) perde valor, mas você poderá aproveitar a alta integralmente sobre o boi que você tem no pasto. A única “perda” será o investimento com o valor da opção comprada que, neste caso, não foi utilizada. Outro fator interessante é que quanto menos vantajosa for pra você, mais barata será a opção. Isso significa que dá pra comprar strikes mais baixos, como o 98, 97, 95, etc., e pagar menos por isso. Sua margem será menor, mas o custo dessa operação também. Ela é chamada seguro de preços pois pode ser comparada a um seguro de carro. Se batemos o carro (se o boi cair), pagamos o prêmio e acionamos o seguro (exercemos nosso direito adquirido em Bolsa). Se não batermos o carro (se o mercado subir), simplesmente não acionaremos o seguro e tudo fica como era antes. E tem outra: não é porque pagamos o seguro que torcemos pra bater o carro, certo? É apenas uma maneira de não contar contar com imprevistos acima do que esperamos (ou acima do que podemos arcar). De maneira simples e com um rápido estudo de custo x preços, conseguimos acabar com a volatilidade e a incerteza do mercado, principalmente em períodos confusos como este que vivemos agora. Espero ter ajudado ou pelo menos plantado uma semente para que haja interesse em desenhar uma operação para o seu caso pessoal e imaginar como seria na sua fazenda se você fizesse a proteção. Bom, acho que encontrarei muitos de vocês na próxima semana, certo? Teremos Feicorte, que vai de 11 a 15 de junho. Estarei por lá na segunda, terça e quarta-feira. Espero conversar pessoalmente. Abraços a todos e até a semana que vem. |
sábado, 9 de junho de 2012
Sobre as incertezas do mercado e as opções de venda
Postado por
Eduardo Lund / Lund Negócios
às
22:12
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