domingo, 3 de junho de 2012

PIB agrícola tem maior recuo em 15 anos


Afetada por problemas climáticos como as estiagens no Sul e no Nordeste, a agropecuária teve a maior contribuição negativa para o crescimento do País no primeiro trimestre de 2012. A quebra da safra da soja - que tem um peso de 20% no setor - foi a principal causa da queda de 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola ante os primeiros três meses do ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado foi o pior em 15 anos nessa comparação, mas não surpreendeu especialistas. A expectativa é de um ano ruim para o campo. 'Pela ótica da produção, o que puxou o PIB para baixo foi a agropecuária', afirmou Rebeca Palis, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE. Em 2011, a fatia do setor no crescimento nacional foi de 5,5%.
O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, feito pelo instituto, estima uma queda de 11,4% na safra de soja em 2012, apesar do aumento de 3,4% na área plantada, o que indica uma redução na produtividade. A previsão para o arroz é de recuo de 13,8% na produção e queda de 11,8% na área plantada. Para o fumo, a expectativa é de redução de 15,9% na produção e de queda de 9,0% na área plantada. A pecuária também teve fraco desempenho nesse início de ano.
'Daqui para a frente, vai depender muito do cenário internacional, da lenta reação da economia americana, da crise (econômica) na Europa. Mas o agronegócio vai ter um desempenho menor em relação aos de outros anos', admitiu o presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho.
O efeito da seca do Nordeste sobre a produção de milho e feijão pode levar a uma queda ainda mais acentuada do PIB da agropecuária no segundo trimestre (abril a junho), avaliou o coordenador de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, José Garcia Gasques.
Luz amarela. A Sociedade Rural Brasileira (SRB) acredita que a seca continuará a prejudicar a produção, em especial no Nordeste. A crise econômica mundial também pressiona o setor agrícola, apesar dos baixos níveis dos estoques globais.
'O setor rural está com a luz amarela (...) A demanda (por nossos produtos) vem da Europa e da Ásia, que estão desacelerando', disse o presidente da SBR, Cesário Ramalho. Na avaliação do executivo, a soja só voltará a puxar o PIB agrícola na safra 2012/2013.
A economista Amaryllis Romano, da consultoria Tendências, destacou que a cana-de-açúcar poderia ajudar no próximo semestre, mas as chuvas devem frustrar a colheita, que já cai 38,7% em relação ao mesmo período de 2011. De acordo com ela, o milho segunda safra e o café não terão participação relevante para a retomada do PIB na segunda metade do ano.
Mais otimista, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) ainda acredita que os resultados negativos poderão ser amenizados por um bom desempenho da segunda safra de grãos, que começa a ser colhida em julho. A entidade admite, porém, que o desempenho positivo do setor em 2011 não deve ser repetir e as perdas das safras só poderão ser recuperadas no ano que vem. 
 COLABORARAM DANIELA AMORIM, JOSÉ ROBERTO GOMES E VENILSON FERREIRA

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