Por Sergio De Zen*
O que a crise fiscal dos países da zona do Euro pode causar na produção de carne bovina no médio e longo prazos? Essa crise econômica está fazendo vítimas na economia européia. A primeira foi a Grécia, depois a Irlanda e, agora, Portugal. Aí vêm as apostas: qual será o próximo país a sucumbir?
Na velha Itália, o estado deve muito, mas o povo tem elevados níveis de poupança. A Inglaterra, embora não esteja na zona do Euro, está envolvida com o Euro de forma umbilical, não tem indústria, vive de serviços e o grande trunfo é poder desvalorizar a Libra. Aí vem o outro grande problema: na Espanha, o estado deve e a população, também.
Para gerenciar a crise, o banco central europeu buscou um italiano ortodoxo, punho duro, que deve resguardar a moeda usada, inclusive, pelos alemães e franceses. Que ironia. Enfim, a Europa ainda tem muita força econômica, mas tem que adotar uma política que os brasileiros conhecem muito bem. Os cortes dos gastos públicos e aumentos dos impostos para equilibrar os orçamentos e recuperar a confiança dos investidores. Também renegociar todos os compromissos, buscando juros menores e descontos.
Dentro dessa realidade fiscal, a agricultura européia, ao contrário da brasileira (que contribui com impostos para o estado), no geral, depende do dinheiro público para manter-se viável. Lógico que produtores de vinho da França e da Itália não precisam de subsídios, mas os produtores de carne, leite, grãos e etc, estes, sim, precisam muito da contribuição do estado para fechar as contas.
A eminência dos cortes de gastos afeta todos, mas, em especial, os políticos. Eles têm que optar entre quais os interesses irão contrariar. Produtores rurais estão cientes dos riscos reais que correm, pois, entre cortes na previdência e no subsídio agrícola, o corte nos subsídios é menos danoso à popularidade. Além disso, os preços dos produtos industrializados estão em queda na maioria dos países europeus, mas os dos alimentos não estão caindo no mesmo ritmo. Isso está atrelado ao fato de a proteção dos mercados agrícolas ser maior.
A lógica do produto europeu em detrimento ao produto importado está perdendo força. O consumidor com pouco dinheiro tem o comportamento universal da opção pelo mais barato.
O silêncio que se seguiu a pergunta do início deste texto expõe a profunda insegurança dos técnicos em relação ao futuro da produção européia de alimentos. Não dá para esperar uma queda brutal na produção e nem numa política imediata de corte de subsídios, mas no médio e longo prazos isso virá, assim como a busca por produtos de qualidade, mas com preços menores.
O próximo passo é saber como chegar ao equilíbrio entre a necessidade de cortar gastos, oferecer segurança alimentar e, ao mesmo tempo, minimizar os impactos sociais do processo. A carne bovina deve ser um produto em pauta, visto que a importada custa menos que a produzida na Europa. É preciso considerar, também, a falta de credibilidade que o produto de certos países possui, arranhada por problemas sanitários.
* Sergio De Zen, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e professor Doutor da Esalq/USP
FONTE: WWW.INTERCONF.NING.COM
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