segunda-feira, 25 de julho de 2011

Fernando Sampaio: Marketing da Carne, perspectivas e desafios


O Diretor Executivo e Coordenador de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio, iniciou sua palestra no Congresso Internacional da Carne, realizado em Campo Grande/MS no início de junho, falando sobre a escritora Chimamanda Adichie e uma apresentação feita por ela sobre "O perigo da história única".

Chimamanda nasceu na Nigéria. Seu pai era professor universitário e sua mãe também trabalhava na universidade. Ela conta que aprendeu a ler muito cedo e adorava os livros de escritores ingleses e norte-americanos e que nestas histórias as personagens eram sempre brancas, comiam maçãs, brincavam na neve e falavam muito sobre o tempo - comentando como o dia estava lindo, pois o sol tinha aparecido.

Quando começou a escrever suas próprias histórias, ainda criança, ela lembra que suas personagens tinham as mesmas características, mesmo sem nunca ter visto a neve, comer mangas todos os dias e nunca falar sobre o tempo, porque não havia necessidade.

"Isso mostra o quão impressionáveis e vulneráveis nós somos em face a uma história. Eu acreditava que os personagens dos livros tinham que ser estrangeiros e a história tinha que ser sobre coisas com as quais eu não podia me identificar. Mas as coisas mudaram quando descobri livros Africanos. Não haviam muitos disponíveis e eles não eram tão fáceis de encontrar como os livros estrangeiros. Mas lembro que lendo esses livros eu passei por uma mudança na minha percepção da literatura, entendi que pessoas como eu também podiam existir na literatura e passei a escrever sobre coisas que eu reconhecia. Então a descoberta desses escritores africanos me salvou de ter uma história única daquilo que os livros são".

Adichie ainda contou que mais tarde quando foi aos EUA para estudar, sua companheira de quarto, norte-americana, ficou chocada quando a conheceu. "Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar Inglês tão bem e ficou confusa quando eu disse que a Nigéria tinha o Inglês como língua oficial. Ela ainda perguntou se podia ouvir a música da minha tribo e ficou ainda mais desapontada quando eu coloquei no rádio uma música da Mariah Carey. Ela também presumiu que eu não sabia como se usava um fogão. O que me espantou foi isso: ela tinha sentido pena de mim mesmo antes de ter me visto". Ou seja, a americana tinha um única história sobre a África na cabeça, uma história de catástrofe e nessa história não havia a possibilidade dos africanos serem semelhantes a ela, de forma alguma.

"A única história cria estereótipos e o problema deles não é eles serem mentiras, mas eles serem incompletos. Na África existem muitas histórias de catástrofes, mas existem outras histórias e é igualmente importante falar sobre elas. Sempre pensei que é impossível me relacionar com um pessoa ou lugar sem me relacionar com todas as histórias dessa pessoa ou lugar. A consequência da história úncia é que ela rouba as pessoas de sua dignidade e enfatiza o quanto somos diferentes ao invés do quanto somos semelhantes. (.) Quando rejeitamos uma história única, quando percebemos que nunca há uma história única sobre nenhum lugar, reconquistamos uma espécie de paraíso", finalizou a escritora.



Baseado neste relato, o diretor da Abiec, lembrou que o Agronegócio brasileiro está sofrendo com uma história úncia, que está sendo contada apenas por alguns. "Precisamos mudar essa história que se conta sobre a pecuária brasileira".



Apresentando os dados acima sobre as exportações brasileira de carne bovina, que cresceram expressivamente nos últimos anos, Sampaio comentou que o mundo está se perguntando como nós estamos conseguindo fazer isso. "A história que estão contando é que o motivo do nosso sucesso é que o boi brasileiro é criado no meio do mato queimado".



Segundo ele, hoje não temos uma carne brasileira e sim várias carnes e isso é uma vantagem e precisamos explorar essa segmentação do mercado, explicando aos nossos clientes que no Brasil tem carne orgânica, de Angus, de Nelore, precoce, superprecoce, criada a pasto, em confinamento, etc.

O Brasil tem que contar a história do produtor como é feito nos EUA, Austrália e Argentina, ressaltou Fernando Sampaio.

"As histórias do sucesso do campo norte-americano começaram com o cinema, nos filmes de faroeste, e são contadas até hoje



Na Argentina existe a figura do gaúcho, que é reverenciado como um símbolo nacional e está diretamente ligado a atividade pecuária.



O diretor da Abiec afirmou que "o campo brasileiro também deve mostrar suas histórias, seus heróis, suas conquistas, e mostrar que o produtor brasileiro está lutando para aumentar sua produtividade".

Todos os principais produtores de carne bovina, sempre mostraram que têm um país bonito e uma carne boa. "Temos que mostra isso e ressaltar nosso diferencial, pois num futuro próximos somos nós que temos condições de alimentar o mundo".



"A história do Brasil ainda é muito recente e não tivemos ainda a opção de contá-la, mas vamos fazer isso agora com a campanha Pecuária do Brasil. Vamos juntos, produtor e indústria, contar nossa história e mudar a imagem que a sociedade tem da produção de carnes, vamos mostrar que somos um setor dinâmico".



Esta campanha será baseada num plano de comunicação que mostrará, através de histórias reais, um setor cada vez mais moderno e sustentável. "Apresentaremos nossas contribuições para o país (O Brasil evolui com a pecuária) e a atualização constante do setor (A pecuária evolui com o Brasil). O projeto ainda focará em ações como a atualização do SIC (Serviço de Informação da Carne), divulgação para a imprensa e públicos estratégicos, publicidade para formadores de opinião, site e ações nas redes sociais e um evento nacional no final de 2011, apresentando os destaques do setor.

Paralelo a isso a Abiec irá continuar com o programa Brazilian Beef, com ampliação e atualização do plano de divulgação da carne brasileira no exterior, em parceria com a Apex. Focando nas qualidades do produto nacional, bem como na crescente produtividade e sustentabilidade da carne brasileira, essencial para alimentar as gerações atuais e futuras.

Sampaio comentou que também é preciso promover mudanças na educação, pois a metodologia atual está errada. "Hoje uma criança pode não saber resolver uma equação de matemática, mas quase todas elas sabem que a carne prejudica o meio ambiente. Vamos dizer que isso é mentira. E para qualquer Ong que venha com hipocrisia dizer como temos que produzir e onde temos que produzir, vamos mostrar com dados que estamos fazendo a coisa certa".

Com convicção ele finalizou sua apresentação dizendo: "tenho orgulho de trabalhar na indústria da carne e de vender carne brasileira".
FONTE: BEEFPOINT

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