Os meteorologistas ainda não lançaram previsões completas sobre a primavera e o verão, mas estão recebendo dados de observatórios internacionais que indicam a ocorrência do fenômeno La Niña nos próximos meses. As águas do Oceano Pacífico, que estavam mais quentes que o normal durante o El Niño registrado no último ano, estão se resfriando lentamente. As mudanças devem inverter a tendência de chuvas em regiões como o Sul do Brasil – previsão que preocupa a agricultura.
Para o inverno, a notícia é boa, uma vez que favorece a produção de trigo. As previsões já apontam menos chuva e mais frio que no ano passado para essa fase de transição. O risco para o cereal passa a ser o de geadas tardias. Os grãos perdem utilidade na fabricação de farinha quando atingidos por temperaturas próximas de zero e gelo na fase final do ciclo, a partir do fim de agosto. Mesmo assim, a tendência é que a produtividade e a qualidade da produção deste ano sejam bem melhores que as de 2009, quando a chuva prejudicou mais de um terço da colheita.
O grande problema será para a safra de verão. Confirmado o La Niña, pode faltar água para a soja e o milho, os dois principais produtos da agricultura do Paraná. As chuvas em excesso que chegam aos campos do Sudeste dos Estados Unidos podem fazer falta aos produtores não apenas do Sul e do Centro-Oeste do Brasil. Argentina, Chile, Paraguai e Peru também tendem a sofrer com déficit hídrico. A preocupação se estende à produção de café, cana-de-açúcar e à própria pecuária. Já as regiões Norte e Nordeste do Brasil, ao contrário, podem receber até mais chuvas.
“Os principais centros meteorológicos do mundo estão apresentando sinais de La Niña para o segundo semestre”, afirma o meteorologista do Simepar Reinaldo Kneib, de Curitiba. Ainda não é possível, contudo, prever se haverá danos para a agricultura, pondera a meteorologista Ângela Beatriz da Costa, que atua no Instituto Agronômico do Paraná, em Londrina. “Ainda não é o momento de os produtores rurais se alarmarem”, afirma Renato Lazinski, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologa (Inmet).
Os especialistas afirmam que a partir de julho será possível dimensionar a força do La Niña e, aí sim, medir sua influência no clima do Paraná e de outras regiões agrícolas. O fenômeno tem características opostas às do El Niño. No Sul do Brasil tende sempre a reduzir as chuvas e a umidade do ar. No entanto, nem sempre se manifesta tão claramente quanto seu irmão. Ou seja, mesmo que as águas superficiais do Pacífico continuem se resfriando, a ocorrência de seca pode ser localizada ou nem mesmo se confirmar.
O que ocorre é que, a partir da mudança na temperatura do Pacífico, as massas de ar úmido da região amazônica não se deslocam para o Sul, permanecem na região ou seguem para o Nordeste. Dessa forma, estados como o Paraná passam a depender de chuvas que venham do Sul, nem sempre suficientes. Quanto maior o resfriamento das águas oceânicas, mais chances dessa alteração.
“A variação na temperatura das águas do Pacífico é muito lenta. Precisamos de meses para confirmar uma tendência como a do La Niña. O mais difícil, neste momento, é determinar a intensidade do fenômeno. Mas podemos dizer que a probabilidade de ele ocorrer é de aproximadamente 80%”, diz Reinaldo Kneib.
FONTE: Gazeta do Povo
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