Os dados recentes dos preços da carne bovina mostram elevações: 1,99% no atacado e 0,88% no varejo
A análise das séries históricas indica que esse aumento no atacado é um claro indicador do comportamento futuro dos preços no varejo, de forma que podemos esperar preços maiores da carne bovina para os consumidores nas próximas semanas.
Uma análise mais ampla dos mercados nacional e internacional revela que esse pode ser o início de um ciclo de duração ainda maior de aumentos de preços no setor, revertendo um resultado de deflação dos preços da carne bovina nos acumulados dos últimos 12 meses.
O Brasil é hoje o maior exportador mundial de carne bovina, vendendo ao exterior pouco mais de 20% do seu total anual de abates.
A dinâmica dos preços do mercado interno fica diretamente ligada ao comportamento do mercado mundial, que sentiu de forma muito clara os efeitos da crise.
Após exportar 1,6 milhão de toneladas de carne bovina em 2007, o Brasil vendeu 1,4 milhão de toneladas em 2008, e 1,2 milhão de toneladas em 2009. O valor médio (em dólares) por tonelada exportada caiu mais de 14% entre 2008 e 2009.
Se, por um lado o consumo interno não acompanhou a queda do mercado mundial, por outro ele cresceu lentamente, ficando estagnado em cerca de 37 kg per capita entre esses anos.
Nesse cenário, o rebanho bovino, que já havia alcançado 200 milhões de cabeças entre 2005 e 2006, caiu para cerca de 193 milhões de cabeças em 2009.
O ciclo de produção e preços da carne bovina tem sido muito estudado no mundo, envolvendo interações interessantes e complexas entre períodos de gestação e maturação do rebanho, relações com preços relativos de rações animais e leite, dinâmica das taxas de abates de machos vs. fêmeas, e efeitos de avanços do processo produtivo, envolvendo melhorias genéticas e técnicas de confinamento.
A recente crise mundial representou um choque exógeno significativo na dinâmica desse ciclo. Após o impacto inicial negativo, os números do ano de 2010 já refletem o processo de recuperação de compras dos principais importadores da carne bovina brasileira.
Nos primeiros seis meses de 2010, o Brasil teve um aumento de 23% sobre a receita do total de exportações de carne bovina, sobre o mesmo período de 2009.
Em grande parte, isso reflete uma elevação dos preços pagos em dólar, dado que a elevação na quantidade exportada foi de apenas 3% no período.
O estudo dos mecanismos por trás dos ciclos de produção e preços de carne bovina, no Brasil e no mundo, continua sendo de grande interesse, principalmente agora que as dúvidas sobre a força da retomada da economia mundial ocorrem em meio a um movimento de alta nos preços.
PAULO PICCHETTI, 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO
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