sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Nova tecnologia de melhoramento para bovinos

Os pecuaristas brasileiros terão acesso a uma nova tecnologia de melhoramento genético desenvolvida em pesquisas nos Estados Unidos. Em parceria com 300 cientistas de 25 países, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) conduz testes com 3 mil animais nacionais para "tropicalizar" e oferecer a nova técnica a partir de meados de 2011.
O segredo desvendado pelos pesquisadores está na ampliação da "leitura" das chamadas "páginas" (pontos) do mapa genético de 17 raças bovinas de corte e de leite. A técnica antiga permitia "ler" até 150 páginas. Agora, serão 777 mil páginas de uma vez. "Hoje, e pelos próximos três anos, essa será a fronteira das ferramentas genômicas em programas de melhoramento genético", diz o zootecnista Marcos Vinicius Barbosa da Silva, da Embrapa Gado de Leite.
Em conjunto com outros nove pesquisadores americanos, o doutor em bioinformática recebeu o maior prêmio anual do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o "Honor Awards", pelos resultados práticos da tecnologia.
A nova ferramenta, disponível nos EUA desde 2009, permitirá identificar e selecionar genes com características específicas, como qualidade e produtividade, de maneira mais rápida, eficiente, ampla e barata. A tecnologia baixará o custo do melhoramento genético de US$ 50 mil para US$ 200 por operação. E o tempo dos testes cairá de sete anos para sete dias. O "mapa" bovino deve gerar novos produtos a partir da seleção de genes especiais que conferem maciez, sabor, coloração e quantidade de gordura e ácidos graxos.
Também ajudará a aumentar a resistência dos animais a doenças e parasitas, como a mastite (inflamação da mama), carrapatos ou vermes, que afetam o desempenho do gado. E os ganhos econômicos são promissores. "Os EUA gastam US$ 2 bilhões por ano com vermífugos", diz Silva. "Se a gente identificar o gene resistente ao endoparasita, vamos gastar muito menos e teremos impacto ambiental muito menor, além de melhorar o produto e a qualidade".
As pesquisas duraram seis anos e a parceria nacional inclui a colaboração entre Embrapa, USP e Unesp para desvendar os genomas do gado nelore e gir leiteiro. A ferramenta poderá ser aplicada ainda ao sistema de rastreamento e identificação individual do rebanho bovino brasileiro, já que tem alta precisão tecnológica e baixo custo.
Ao construir o mapa genético bovino, os cientistas descobriram características de cinco mil gerações da espécie. Os resultados mostraram a redução do tamanho efetivo das raças, cujo total soma hoje 800 tipos. A redução foi provocada pela domesticação da espécie ocorrida há oito ou dez mil anos. Também contribuíram a formação de raças e a intensa seleção para produção de carne e leite.
As descobertas também podem ajudar no avanço do estudo de doenças humanas. A alta resistência dos bovinos a micro-organismos contidos em seu rúmen pode ser uma chave para as pesquisas sobre aumento da imunidade em seres humanos. Há questões sobre metabolismo, lactação e digestão incluídas nessas pesquisas, patrocinadas por instituições dos EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Noruega, França e Reino Unido.

FONTE: Valor Econômico
Autor: Mauro Zanatta, de Brasília

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