É claro, você pode dizer que isso daí, esse aumento na oferta é uma coisa específica do MS. Aqui em Dourados, por exemplo as chuvas já voltaram ao normal. Os pastos estão verdes e brotando violentamente.
Bom, pelo menos nos pastos que a gente vê na beira da estrada e nos nossos próprios pastos. No Tocantins onde também temos uns pastinhos, os pastos já estão brotando, especialmente os pastos com andropogon.
Você e eu, pecuarista que somos, podemos desdenhar do MS dizendo que: “E daí? Só lá tem boi gordo então!” Ah, meu colega, mas os frigoríficos não pensam assim de jeito nenhum. Aqui é fácil qual será a estratégia. Se essa oferta no MS se mantiver daqui para frente te garanto que eles irão aumentar as compras por aqui, aumentando os abates diários e diminuindo as compras nos outros estados. Assim eles matam dois problemas, pois absorvem a oferta sul-mato-grossense e alongam as escalas nos estados em que há falta de animais. Ou você acha que frigorífico é bobinho?
Ah, e ia me esquecendo. Não ouvi ninguém dizendo sobre o ganho compensatório dos animais em função da extrema seca que acometeu várias regiões. Tenho a impressão que as planilhas de ganho de peso nessas águas ficarão acima da média dos últimos anos.
Qual o motivo de estar dizendo essas coisas? Digo isso tudo porque nunca houve uma entressafra que não acabasse. Agora, não sou inocente nem ingênuo de ficar falando na base do achismo, na base da bravata e dos murros na mesa, sem qualquer tipo de embasamento técnico e dizer categoricamente até onde a arroba irá. Seria mais honesto falar que consultei o horóscopo do Walter Mercado (Lembra-se? Ligue “Djá”). Analistas que usam de verborragia só demonstram que são tão profundos como um pires. Entendem tudo errado e prestam um desserviço. Meu Deus, li essa semana o absurdo do absurdo e quase caí da cadeira de tanto rir: ciclo pecuário não existe.
Espero que seja do entendimento dos leitores que buscamos nas nossas análises é o valor da arroba, seu valor intrínseco, seu valor merecido, seu valor no qual o pecuarista pode agir e pode ter lucro na atividade. Ou o contrário, que é melhor ele esperar e não vender quando o valor está baixo demais.
Preço é outra coisa. Não discuto com o preço em bolsa e nem com seu preço cotado nos frigoríficos.
O mercado pode ir para onde ele quiser, mas depende de nós agir para capturar os bons momentos.
Foi o Barão de Rothschild´s quem disse: “Eu fiz minha fortuna ao vender muito cedo.”
O que viemos dizendo ultimamente foi para ir vendendo e ir repondo animais, sempre que conseguirem fazer alguma coisa nesse sentido. Realmente não está fácil achar boi magro, ou garrote, ou bezerro, mas é nosso trabalho ir atrás e ver o que aparece.
E tem aparecido, viu. Nessas duas últimas semanas me surpreendi com as ofertas de boi magro, garrote e bezerro. E o melhor foram os preços. Alguns lotes com preços obviamente fora de base, mas na maioria com preços condizentes com uma arroba a 100 reais no MS. Isso quer dizer que algo foi sensibilizado com a arroba ao redor de 100 reais aqui. O mercado destravou, essa é a sensação, tanto o mercado do boi gordo, quanto o mercado da reposição.
E falando em reposição, se você foi vendendo e repondo, pegou essa curva ascendente do gráfico aqui ao lado. Não é pouca coisa uma alta de 42% no principal indicador do seu negócio, muito mais importante que somente a arroba do boi gordo em si.
Por falar em taxa de reposição, mais um pouquinho só dessa taxa subindo repetiremos o movimento de alta de 2002 para 2003, que foi o maior do plano real até hoje.
É um beicinho de pulga só. Só precisará a arroba passar os 115 reais para isso ocorrer.
Mas agora sério. Com pulga ou sem pulga o mercado está historicamente trabalhando nos picos de preço ou ao redor dele. Em se tratando de commodity, mesmo com uma oferta escassa como o boi atualmente não dá para esperar reclamar não.
Escrevi o texto da Carta Pecuária de Longo Prazo essa semana, caro leitor. Aprofundei mais sobre esses temas lá, em um texto de oito páginas recheado de gráficos e análise da oferta e demanda da carne bovina. Não vou repetir as mesmas coisas aqui. O texto foi publicado pela Scot Consultoria.
Seguindo em frente, gostaria de chamar a atenção para o alargamento do diferencial de base entre São Paulo e o restante do Brasil Central. Observe a queda no gráfico anterior, ou seja, a desvalorização proporcional acentuada dessas últimas semanas do preço da arroba fora de São Paulo. Isso pode significar que ainda não deu tempo fora de SP se ajustar aos preços paulistas.
Foi rápida demais a alta. Ou pode significar um MS mais ofertado, segurando as bases. Veremos nas próximas semanas.
E falando em mercado, observe aqui a continuação da discussão que comecei no site da Carta Pecuária em relação ao contrato de novembro na bolsa. Como a gente tinha comentado lá, esse contrato entrou em um triângulo ascendente, mas na ocasião deixei de comentar outra coisa — ele quebrou a linha vermelha de tendência de alta, linha essa estabelecida em meados de outubro e resistiu até ontem.
Isso é um sinal de um mercado que está ficando cansado? Aparentemente, sim.
Por outro lado, o triângulo ascendente aqui mostrado por essas duas retas pretas tecnicamente é altista, mas vou te falar... Já vi vários triângulos ascendentes no boi; uns foram realmente altistas, outros foram baixistas. Não sei... Me chamou muito a atenção do indicador à vista fazendo novos picos ao redor de 113 reais e o contrato de novembro somente conseguiu chegar até os 110 reais e de lá não conseguiu romper, como o gráfico está mostrando. Ou é o mercado pregando uma pegadinha com quem está achando que é hora de vender, ou realmente ele está enxergando o pico ao redor disso aí?
Temos que esperar para ver.
Mas o que estou falando? Cento e dez para cento e treze... Isso é o mesmo que dizer que em um arranha-céu a vista é melhor do 113º andar do que do 110º andar.
Não altera muito. Já é alto prá caramba em qualquer um dos dois. O que tem sido muito bom para a pecuária ultimamente.
FONTE: ROGERIO GOULART / CARTA PECUÁRIA
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