O cenário de preços recordes atingidos pela carne bovina requer uma análise que vai além de ser este um momento positivo para o produtor rural. Se no curto prazo a escassez de gado pode significar maior lucratividade, o alto preço da arroba é reflexo de um conjunto de fatores que não se resume à forte estiagem dos últimos meses. Fatores que precisam ser revistos com urgência de modo a contornar as consequências da volatilidade que caracterizou a pecuária nacional ao longo dos últimos anos.
A avaliação é do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul), Eduardo Riedel, ao analisar escassez de animais para o abate, o que elevou o preço da arroba para valores acima de R$ 101 em Mato Grosso do Sul, e de cerca de R$ 115 em São Paulo, esta semana. Para o dirigente, o produtor rural tem sido sistematicamente desestimulado a investir na pecuária, ao mesmo tempo em que o ciclo da criação bovina culminou com a queda na oferta resultante da crise que o setor viveu há cerca de quatro anos.
O abate de matrizes, conseqüente da crise gerada pelo foco de febre aftosa no Estado e da descapitalização generalizada dos criadores nos demais estados produtores, foi um dos fatores de maior impacto na condição atual de falta de reserva de animais. Pelo ciclo natural da pecuária, o mercado deveria estar sendo abastecido pelos bezerros das matrizes sacrificadas na crise da sanidade. “São necessários planejamento e investimento para a recomposição do rebanho brasileiro, de modo que estejamos aptos a atender o crescimento da demanda previsto para os próximos anos”, enfatiza Riedel, referindo-se à tendência de aumento de mercado desenhada até pelos prognósticos mais pessimistas.
A pressão ambiental é outro fator que desestimula o investimento na criação de gado no País. O agronegócio tem sido caracterizado como agente contrário à preservação ambiental, gerando um ônus não só financeiro como moral ao criador. “O produtor tem sido inibido pelo conceito que a pecuária agride o meio ambiente, quando há casos em que ela reconhecidamente um dos fatores aliados a preservação, como no Pantanal”, menciona o dirigente. Monitoramento realizado na Bacia do Alto Paraguai por um grupo de ONGs integrado pela Ecoa e WWF-Brasil, de 2002 a 2008, demonstrou que a pecuária de caráter extensivo desenvolvida na região favorece a preservação de 87% da cobertura vegetal original da planície pantaneira.
A falta de programas de investimentos para a recuperação de pastagens é outro fator que contribuiu para a escassez na oferta de animais para abate. Como não há planejamento ou políticas efetivas de incentivo ao produtor e a recomposição do rebanho é lenta, as perspectivas indicam uma tendência de manutenção de preços altos para a carne bovina. “É preciso haver condições para que o produtor se sinta seguro para investir e explorar o potencial do setor pecuário brasileiro”, assinala o dirigente, ressaltando a necessidade de planificação de estratégias que garantam estabilidade ao setor.
As informações são da assessoria de imprensa da Famasul/SenarMS.
FONTE: Agrolink
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