Desde dezembro que ouve-se falar que a safra está próxima. Levando em consideração o volume de chuvas e a sazonalidade do boi gordo, pode-se dizer que esta safra está sendo atípica e foge à regra que aponta queda de preços no primeiro semestre do ano. Há, inclusive, certa semelhança com a safra do ano passado, em que todos aguardavam por uma queda que praticamente não veio (somente em maio, pico da oferta de animais de pasto).
Entretanto, existem algumas diferenças: os preços correntes estão entre os mais altos historicamente, o que deixa aqueles que analisam o boi gordo cautelosos em relação a novas e fortes altas em 2011. Além disso, de acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), já faz quatro anos que o produtor brasileiro retém as fêmeas, portanto, uma hora os bezerros delas têm que aparecer (o difícil é acertar o exato momento em que eles deverão aparecer). Hoje o mercado está pisando em ovos è espera desses bezerros.
Mas algumas variáveis criam possibilidades de mudança para essa matemática. Definitivamente o crescimento da demanda por alimentos, traduzido pelo aumento do poder de compra dos mercados, ficou em evidência no ano passado. A recuperação econômica dos países desenvolvidos e a melhora do poder de compra dos países em desenvolvimento causaram uma pressão inflacionária sobre as commodities. Falando do cenário interno, além da migração de grande parte da população das classes E e D para a classe C, o fato de 2010 ter sido um ano de eleição fez aumentar o apetite por alimentos de qualidade. O número de cestas básicas compradas com um salário mínimo saltou de 1,22 em 1997 para 2,13 em 2010, favorecendo o consumo de proteínas mais caras nos últimos anos, como a bovina.
E esse comportamento não tende a ser freado de um momento ao outro. De acordo com a FAO (Departamento da Organização das Nações Unidas para questões relacionadas à Agricultura e Alimentação), até 2050 a população crescerá de 7 bilhões para 9 bilhões de habitantes, ou 30%, o que pode ser traduzido pela chegada de novos consumidores de alimentos ao mercado. Além do aumento populacional, a evolução econômica dos países em desenvolvimento fará com que a demanda por alimentos de qualidade também aumente. A prova natural disso é o aumento do consumo per capita de carnes nos últimos anos em países em desenvolvimento.
Certo, mas o que isso tem a ver com a duração da fase de alta do ciclo pecuário? Bem, esse aumento de demanda pode fazer essa fase durar mais do que deveria, ou pelo menos deixar os preços em patamares elevados por mais tempo que o normal. Isso porque ela acaba “absorvendo” aquela safra de bezerros que deveria começar a entrar após quatro anos de retenção de fêmeas.
Não me entendam mal, não quero dizer que o ciclo pecuário não existe mais! Não é nada disso. Só quero dizer que faz sentido que uma oferta crescente e uma demanda aquecida acabem enfraquecendo um ao outro, deixando o mercado nos atuais patamares por mais tempo do que deveria.
FONTE: www.agroblog.com.br / autor Lygia Pimentel
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