Indicador arraigado no Brasil, a medida em arroba costuma trazer algumas confusões para os menos habituados ao conceito.
Por isso, vez ou outra, nos deparamos com opiniões questionando a eficácia em manter a arroba como indicador de peso bovino. Por que não usar diretamente o peso vivo, em quilos? – argumentam. A argumentação é validade, haja vista as confusões que acabam sendo geradas em seu uso. Vamos entender.
A arroba é uma medida antiga de massa. É de origem árabe, mas acabou sendo adotada pelos espanhóis e portugueses. Provavelmente pela relação entre os povos ibéricos com os árabes, seja pelo tempo em que parte da Espanha esteve sob julgo muçulmano, ou pela própria troca de conhecimentos de navegação.
Pois bem, originalmente, uma arroba equivale à quarta parte do quintal, outra medida de massa. E essa medida varia de acordo com a cultura ou com o povo que a utiliza.
Sendo assim, pesquisando quanto vale uma arroba, e transformando a sua medida em quilogramas, encontramos diversos valores:
- 11,3398 quilogramas, original árabe.
- 16,3293 quilogramas, usado em algumas regiões na Espanha.
- 14,688 quilogramas, arredondado para 15 kg (o que utilizamos), usada aqui no Brasil e em Portugal.
As medidas regionais acabaram perdendo força, ou caindo em desuso, com a introdução e padronização do sistema métrico de unidades. Mas nem todos os mercados aderiram, como é o caso da medida de massa (peso) de bovinos, algodão, suínos e outros produtos, no Brasil.
No Brasil, o valor da arroba é 15 kg, arredondado de 14,688 kg conforme comentado anteriormente. Mas, apesar de consolidado os 15 kg por arroba, fica ainda uma confusão no mercado. Essa confusão deriva da diferença entre peso vivo e peso de carcaça.
O que chamamos de peso deveria, corretamente, ser chamado de massa. Mas para não criar confusão será mantido o termo usual.
O peso vivo de um bovino é o total pesado em balança. Como o nome diz, é o peso total do animal, vivo.
Quando se fala em arrobas, se faz referência ao peso da carcaça, ou seja, o peso da carne com o osso. Desconta-se então o total pesado pelo sebo, couro, patas, cabeça e entranhas.
A carcaça – carne e osso - representa algo em torno de 50% do peso vivo do boi. Os outros 50% são couro, sebo, sangue e a soma de todos os outros miúdos e do material ruminal.
Por representar cerca de 50% do peso do animal, normalmente acaba-se calculando diretamente a quantidade de arrobas dividindo o peso vivo por 30. Este número já consideraria a quantidade da arroba (15 kg) e o rendimento da carcaça, que é em torno de 50%.
Apesar de chegar a um resultado próximo ao correto, este cálculo pode induzir a erros grosseiros pela própria confusão de quanto vale uma arroba.
Também não são raros os textos considerando peso de animais ou de carcaça totalmente fora da realidade. Por exemplo, um macho terminado abatido com 275 kg de peso vivo; ou uma carcaça de 550 kg para um boi comercial.
Geralmente, pessoas não acostumadas ao conceito do uso da arroba e do rendimento de carcaça, acabam provocando tais confusões.
A confusão, portanto, não está na transformação de quilos para arroba. O problema reside no fato de que o peso vivo em quilogramas é usado para o animal vivo, enquanto a arroba é usada para o total da carcaça, mesmo que se esteja falando em animais ainda vivos.
Por exemplo, um boi de 300 kg de peso vivo é um boi de 10@. No entanto, 300 kg divididos por 15 é igual a 20 e não 10.
Mesmo com o animal ainda vivo, quando falamos em arrobas estamos considerando o peso que será obtido com a carcaça. Por isso que o peso do boi do exemplo é igual a 10@. São 300 kg de peso vivo, dos quais apenas 150 kg (50%) são carne mais osso, ou carcaça propriamente dita. O peso de 150 kg divido por 15 é igual a 10@.
Embora pareça confuso, o raciocínio é automático para quem está acostumado. Quem não convive com tal terminologia, comum na pecuária, pode desenvolver o raciocínio fazendo o seguinte cálculo:
No exemplo do texto, o peso vivo é 300 kg que multiplicado por 50% (rendimento de carcaça) chega a 150 kg da carcaça. Divide-se o peso da carcaça por 15 e chega-se às 10@.
Também é comum usar o termo peso morto no lugar de carcaça.
A confusão aumenta quando se inclui os diferentes rendimentos de carcaça dos animais que serão, ou foram, abatidos. Tal rendimento pode ser 48%, 54% ou qualquer outra porcentagem ao redor disso.
O rendimento depende da condição corporal, cobertura de gordura, sexo, raças, nutrição e peso vivo no momento do abate.
Por isso é preciso cautela quando se compara simplesmente a medida em quilogramas com as arrobas. É preciso lembrar que estamos comparando duas situações diferentes.
Na prática, no dia a dia das fazendas, ambas as informações são usadas para se calcular o rendimento da carcaça. O pecuarista pesa o animal em sua propriedade, obtendo assim o peso vivo do animal instantes antes do embarque. O frigorífico, que fará o pagamento do boi abatido, passa ao produtor o peso da carcaça que foi obtido após o abate.
Esse peso geralmente é repassado em quilogramas e não em arrobas. Mesmo assim, de imediato, ou o próprio frigorífico ou o pecuarista já o transforma em arrobas, dividindo o total por 15.
Com ambas as informações, o pecuarista compara a pesagem do frigorífico (carcaça) com a pesagem feita na fazenda (peso vivo) e chega ao rendimento de carcaça:
Outro exemplo. Imagine que um animal tenha sido pesado em 520 kg na fazenda, antes do embarque. Depois de abatido, o frigorífico informa que o peso da carcaça foi de 275 kg ou 18,33@.
O peso da carcaça (275kg) divido pelo peso vivo na fazenda (520 kg) é igual a 0,5288. Multiplicando por 100, para transformar em porcentagem, chega-se ao valor de 52,88% de rendimento de carcaça.
Claro que o ideal seria que todas as unidades fossem padronizadas pelo sistema métrico. No entanto, alguns casos envolvem toda uma mudança cultural e um esforço superior ao benefício que seria obtido. Por isso é mais importante que sempre se tenha consciência de que medida se está falando e para qual situação: peso do animal vivo ou peso da carcaça.
Só por aí já é suficiente para evitar quaisquer confusões que possam decorrer do uso de ambas as medidas.
FONTE: BIGMA CONSULTORIA
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