sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ciclos do mercado



 
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Lygia Pimentel é médica veterinária, pecuarista e especialista em commoditieslygia@bigma.com.br
Reprodução permitida desde que citada a fonte
Acho que seria bastante redundante comentar aqui que o mercado é cíclico, certo? Desde que comecei a conversar sobre o mercado temos falado sobre ciclo pecuário, safra e entressafra, sazonalidade do consumo de dianteiro/traseiro, sazonalidade das exportações, descarte de matrizes, crises financeiras... e tudo isso interferindo nos preços recebidos pelo pecuarista. Sempre falamos sobre isso.

É aquele tal negócio, quando a coisa tá boa todo mundo quer participar da festa. Quando a coisa tá ruim, ninguém vê esperança. E tentamos entender e estudar os efeitos disso tudo e como podem interferir no mercado mais adiante.

O mercado futuro não se comporta de maneira diferente. Ele também é cíclico. Afinal, como poderia comportar-se diferentemente se o objetivo é o mesmo: comprar por um valor mais baixo que o de venda? Ou vender por um valor mais alto que o de compra?

Bom, toda essa enrolação nos servirá para pensar sobre o que tem acontecido no mercado futuro. Nesta semana recebi várias ligações de clientes e jornalistas questionando o movimento de queda do mercado futuro. “Se o físico está mais firme, como pode o mercado futuro cair?”.

Bom, temos motivos fundamentais e técnicos para que isso tenha acontecido – e para entendermos se o movimento faz sentido. Hoje me concentrarei nos motivos fundamentais e em como o mercado poderá reagir diante da situação atual.

Fundamentalmente, o mercado enxergou que os preços subiram. Na verdade, devemos começar do princípio. Apesar da falta de dados oficiais, pelo que acompanhamos, os frigoríficos têm trabalhado com abate elevado em relação ao mesmo período do ano passado. Com esse movimento de aproveitar a oferta que existe para diluir custos fixos e melhorar os resultados, mantiveram o mercado relativamente sustentado, mas aí nos deparamos com um problema: as exportações foram fracas e o mercado foi inundado com carne num momento de consumo doméstico mais fraco.

Como resultado, o atacado não se sustentou e os preços do boi perderam a firmeza em março. Entretanto, desde o começo de abril, com o fim da Quaresma e o início do mês – e também com uma bela enxugada de oferta devido ao pagamento mais baixo – o mercado de carne saiu daquele marasmo todo, observe:

Gráfico 1.
Evolução dos preços do boi gordo e do equivalente físico em SP em 2012.


Fonte: Broadcast/Cepea/Divisão AgriFatto – Bigma Consultoria

Repare que a linha tracejada vertical nos indica a virada do mercado: antes daquele momento, a oferta de animais já tinha enxugado e o boi gordo parou de cair. Mas ainda não conseguia se recuperar pois havia oferta de carne no mercado, representada pelo comportamento do equivalente físico, que permanecia em queda. Como resultado, o spread entre boi gordo e equivalente físico voltou a se abrir.

Entretanto, a partir do momento que voltou a faltar carne no mercado, o equivalente físico reagiu e os frigoríficos voltaram a procurar o boi, que também firmou. A carne tem se comportado bem e o equivalente físico se aproximou bastante da arroba do boi gordo, melhorando a margem da indústria.

Agora, estamos assim: preço do boi um pouco melhor e margem da indústria um pouco melhor. Resultado: o pecuarista quer vender o boi e a indústria quer comprar para aproveitar o momento, o que fez com que as escalas alongassem um pouco nos últimos dias e ainda assim o preço se mantivesse firme.

Entretanto, com o dissemos, o mercado é cíclico. Com a chegada da segunda quinzena do mês e com a prévia das exportações indicando movimento ainda fraco no mercado internacional, podemos incorrer novamente em aumento da oferta de carne no mercado interno, o que regularia o spread boi gordo/equivalente físico. E faria o boi perder a firmeza.

Será que o mercado futuro enxergou tudo isso? Não sei, mas acho que um pouco disso, sim.

O que ocorre é que quando falamos em mercado futuro devemos considerar também o posicionamento dos players e devemos considerar que a grande maioria especula. E quem especula não ganha com mercado parado, apenas quando ele se move. Portanto, voltamos a falar dos ciclos.

Nas últimas semanas, o que vimos foi o aumento da participação da pessoa física na compra do mercado futuro de boi gordo e o aumento da pessoa jurídica (financeira e não financeira) na venda. Observe:

Gráfico 2.
Evolução da participação dos players no mercado futuro de boi gordo.


Fonte: BM&FBovespa/Broadcast/Divisão AgriFatto – Bigma Consultoria

Isso mostra pra gente que enquanto a PF está lá, lendo nos jornais que a carne está cara e que por isso deveria comprar boi na bolsa, a PJF e a PJNF se concentram em aproveitar a oportunidade para realizar os lucros das compras recentes e para apertar a PF, que é historicamente um participante frágil, que não aguenta o tranco quando tem que encarar o ajuste negativo. Isso faz com que o mercado caia de maneira mais violenta quando a posição comprada é abandonada.

Por isso costumamos dizer que o mercado precisa de um “respiro” para continuar saudável. É aquela tal história: o que acontece quando todo mundo senta do mesmo lado da canoa? Portanto, juntando-se os fatores fundamentais e técnicos, chego à conclusão de que essa correção recente faz todo sentido e era necessária para que o mercado possa ficar ainda mais interessante.

Será que alguém aí aproveitou nossa dica da semana passada e “agarrou” o pássaro? Teve gente que me ligou e disse que já aproveitou para garantir alguma coisa. Ah, e só mais um lembrete – não se esqueçam do mercado de opções!

Fora isso, gostaria de dizer que nos dias 18 e 19 de abril estarei no Circuito Feicorte NFT, etapa Goiânia – GO. Convido os amigos que estiverem por perto a participar e chegar perto pra batermos um papo pessoalmente.

Grande abraço a todos!

FONTE: BIGMA CONSULTORIA

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