Adesão ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produto de Origem Animal permite vender a produção fora do Estado
Marcelo Beledeli
ANA PAULA APRATO/ARQUIVO/JC
A adesão dos abatedouros gaúchos ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produto de Origem Animal (Sisbi) ainda levanta questionamentos entre os frigoríficos e empresas do ramo no Estado. O assunto será debatido hoje em palestra que o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Rio Grande do Sul (Sicadergs) realiza, às 15h45min, no centro de eventos do Virtuale Business Center (avenida Padre Cacique, 320) em Porto Alegre. Segundo a entidade, ainda existem muitas dúvidas sobre os procedimentos para ingressar no sistema nacional.
Moussalle explica que muito estabelecimentos desconhecem os investimentos que precisam fazer
Desde setembro do ano passado os serviços de inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal administrados pelo governo do Estado tiveram a sua equivalência reconhecida para adesão ao Sisbi. Com essa medida, oficializada pelo Ministério da Agricultura (Mapa) e pela Coordenadoria de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Cispoa), as agroindústrias e abatedouros gaúchos que já utilizam a estrutura de inspeção do governo estadual podem ser qualificados para comercializar sua produção para todo o País.
Antes da equivalência entre o Sisbi e a Cispoa, para que um abatedouro ou agroindústria obtivesse permissão para vender seus produtos para todo o País era necessário um convênio entre o Mapa e a prefeitura do município onde a empresa se localiza. “Mas isso exigia que as prefeituras adequassem seu sistema de inspeção, o que é muito difícil. Dessa forma, no caso dos bovinos, hoje só temos dois abatedouros com autorização para vender para fora do Rio Grande do Sul”, lembra o diretor-executivo do Sicadergs, Zilmar Moussalle.
No entanto, embora diversas empresas tenham demonstrado interesse no Sisbi-Poa, as dúvidas em relação aos custos e benefícios de utilizar o sistema ainda têm sido elevadas no setor. “Muitos estabelecimentos têm a inspeção da Secretaria da Agricultura, que só permite vendas dentro do Estado, mas não têm certeza se valeria a pena buscar o Sisbi, quais investimentos que teriam que fazer e se esses gastos seriam realmente compensados por um aumento de vendas”, explica Moussalle.
Segundo ele, atualmente cerca de 30 empresas associadas à entidade possuem autorização do Cispoa para comercializar seus produtos. No entanto, até o momento, apenas quatro manifestaram interesse em aderir ao Sisbi e expandir suas vendas para outros estados. Um dos motivos seria a falta de incentivo para comercializar carne fora do Rio Grande do Sul, uma vez que o Estado consome mais do que produz, tendo inclusive que trazer o produto de outras regiões para abastecer a demanda interna.
No entanto, a possibilidade de alcançar mercados não passa despercebida por algumas empresas. Uma delas é o frigorífico Callegaro, de Santo Ângelo, que até o próximo mês deverá receber uma auditoria do Sisbi para verificar sua adequação ao sistema. Segundo o diretor Paulo Renato Callegaro, a companhia, que abate até 5,5 mil cabeças de gado bovino por mês, vem investindo na expansão de sua capacidade de produção e armazenamento e na promoção de sua nova marca, a Campo Nobre, que aposta no uso de carnes especiais de animais da raça Angus. “Mas isso tem um público restrito, e para aumentar os lucros precisamos expandir e conquistar clientes em outros estados, por isso a importância em aderir ao Sisbi”, explica. Callegaro acredita que não serão necessárias muitas mudanças para alcançar a autorização federal. “Esperamos nos enquadrar dentro das condições que temos hoje, que são aprovadas pela Cispoa.”
De acordo com o veterinário Diego Facin, gestor do Sisbi na Cispoa e palestrante do encontro do Sicadergs, as empresas que já possuem a fiscalização estadual não teriam que fazer grandes investimentos para obterem a possibilidade de comercializar para fora do Estado. Uma das poucas mudanças que a equivalência demandou no sistema estadual, conforme Facin, é o cronograma de análise físico-química de produtos de produtos de origem animal, cuja frequência passou de semestral para trimestral. “Não é preciso fazer alterações. O sistema estadual tornou-se equivalente ao federal, e nossa legislação é suficiente. Eventualmente seria preciso corrigir alguns problemas específicos, mas nada que demande grandes mudanças”, aponta. A expectativa da Cispoa é de, até o final do primeiro semestre, ao menos cinco empresas gaúchas que utilizam a inspeção estadual já terem aderido ao Sisbi.
FONTE: JORNAL DO COMÉRCIO
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