Esse período do ano normalmente é difícil mesmo. Várias opiniões e muita incerteza em relação ao pico da arroba.
Tenho sempre comigo indicadores para acompanhar. Eles mostram uma luzinha minúscula no fim do túnel, normalmente. Mas pra que a gente encontre o caminho, devem ser atualizados sempre que possível. O mercado anda, a projeção se concretiza (ou não) e, como disse no twitter esta semana, as intenções também mudam, por isso a direção das coisas pode mudar no meio do caminho.
Bom, seguem alguns indicadores que gosto de seguir:
1. Volume de animais confinados: como comentei na semana passada, segundo a Assocon (em entrevista ao portal BeefPoint), o volume adquirido de bois magros no primeiro semestre está muito próximo daquele no mesmo período de 2010. A primeira pesquisa de intenção teve resultado de 31% de aumento, mas ela foi feita antes de o mercado cair. Agora o resultado do confinamento já não fica tão bom e parece que as intenções mudaram, então pode muito bem faltar boi lá pra frente.
2. Troca da carne bovina pela carne de frango: segreguei em quilos a participação das carnes na cesta básica. Fiz isso em R$ também, mas aqui colocarei apenas o resultado em quilos. Fica claro que o frango vem ganhando espaço enquanto o bovino perde. Não é grande novidade, na verdade, mas de toda forma, é bom ver os números. Mostra que o brasileiro vinha comprando mais de 3kg de carne (média 3,12kg) e hoje compra 2,6kg. Para o frango, ele comprava 8kg (média de 8,7kg) e hoje compra 10,6kg.
Obviamente, hoje a competição é desleal no quesito “volume” e o bovino perde sua competitividade frente a proteínas mais baratas e com maior share dentro do salário. Fica evidente a troca da proteína bovina pela de frango caracterizada pelas linhas em cruzamento. Observe o gráfico:
Gráfico 1.
Volume de cada carne adquirido dentro da cesta básica (kg).
OBS: Frango no eixo esquerdo (principal) e bovino e suíno no eixo direito (secundário).
3. Participação do complexo carnes na cesta básica: com a informação acima, quero ilustrar melhor o que significa a carne bovina pesar no orçamento da dona de casa. Estamos fora da banda máxima (vermelha) de distorção desse indicador, isto é, a participação do gasto com carnes dentro do gasto total com a cesta básica está nas máximas. Observe a figura abaixo:
Gráfico 2.
Participação das carnes na cesta básica do brasileiro.
Isso significa que entre um contrafilé de R$19,00/kg e um peito de frango em R$7,00/kg, a dona de casa classe C, maioria absoluta entre os consumidores hoje, optará pelo que pesa menos no orçamento para o consumo diário. Para os fins de semana e ocasiões especiais, ela comprará alguns quilos de carne bovina.
4. Valorização safra/entressafra: na média das valorizações entre vale de safra/pico de entressafra, temos 26% de alta média na série histórica de 10 anos. Isso colocaria a arroba em R$122,00 para outubro/novembro. Eu não costumo subestimar o fator sazonal! Ele sempre mostra a sua força quando menos esperamos.
5. Spreads dianteiro/frango e dianteiro/suíno: esses spreads estão nas máximas históricas! Não sei se daria pra abrir mais (frango/suíno cair e/ou carne bovina subir mais). O correto, se é que existe isso, é que as carnes alternativas subissem um pouco de preço. Os produtores estão com as margens muito apertadas, mas de acordo com os dados do Avisite, a produção do nosso amigo penoso tá em alta. Estranho, muito estranho. Precisaríamos de estatísticas mais recentes pra ver se a produção cai e o frango começa a reagir.
6. Spreads com o varejo: mesma história… Olhando a série histórica fica bem claro que o spread vem buscando novos patamares ao longo dos anos. Está em uma ascendente. Outro detalhe importante: o varejo não diminui suas margens quando o boi cai. Ele só aumenta quando é a hora de fazer isso, ou seja, quando o boi sobe! Olhe o próximo gráfico:
Gráfico 3.
Diferença de preços entre a arroba e o varejo.
Quanto mais próximo da banda azul estiver o spread, maior é a margem do varejo. Ocorre que a arroba caiu e o varejo não seguiu o ritmo. Recuou muito pouco desde o pico da arroba até agora. Isso acaba dando espaço para a margem dos supermercados encolherem de novo (até se aproximar da banda vermelha) caso a arroba resolva subir por falta de oferta. Lembra-se que falei para não nos esquecermos do fator sazonal?
Se o varejo resolver repassar a alta para manter as margens nos níveis atuais (que são bons), acho que o consumo cai em benefício das outras carnes (lembrando da participação das carnes no total da cesta básica). É importante também lembrar que o volume (em kg) de frango adquirido dentro da cesta tem aumentado ao longo dos anos, ou seja, ele é o substituto da carne bovina em alta.
7. Exportações: estão de lado e não vejo grande otimismo pra crescermos demais em 2011 com o dólar deixando a nossa carne cara para os clientes internacionais.
Nesse balanço, há espaço para o varejo diminuir suas margens e, com uma oferta de animais reduzida devido à entressafra e a um resultado insatisfatório do confinamento em 2011, a arroba subir. Mas ainda seguindo o lado da demanda, o consumo pode não acender uma chama poderosa, como a que fez os preços arrancarem ferozmente no ano passado.
Enfim, é isso. Queria compartilhar com vocês uma visão para o segundo semestre e pedir opiniões. Grande abraço e até a semana que vem!
FONTE: www.agroblog.com.br /autor Lygia Pimentel
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