Maurício Palma Nogueira, eng. agrônomo e diretor da Bigma Consultoria
mauricio@bigma.com.br
No final de junho, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou os dados da pesquisa trimestral. No abate de bovinos o resultado confirmou o aumento do abate de fêmeas, o que já era esperado.
Entre janeiro e março de 2011, o abate de fêmeas aumentou 12,34% em relação ao mesmo período de 2010. Na mesma comparação, o abate de machos recuou 6,22%.
No total, a quantidade de animais abatidos no primeiro trimestre praticamente se manteve estável, em torno de 0,18% acima do que foi registrado no mesmo período de 2010.
Porém, como mais vacas foram abatidas, a produção de carcaças, registradas pela pesquisa trimestral do IBGE, foi 3,11% menor em 2011.
Esse é um dos motivos que levou os frigoríficos a pressionar pela melhoria das carcaças no início do ano. Não há dúvidas que houve piora na qualidade média das carcaças.
É normal aumentar o abate de fêmeas no primeiro trimestre. É nessa época que as vacas vazias são descartadas das fazendas brasileiras. Seja a estação de monta planejada ou natural, possibilitada pela melhoria das pastagens, as fêmeas começam a ser emprenhadas a partir de outubro, normalmente.
Nos meses seguintes são realizados os diagnósticos de gestação. Aquelas que não estão prenhes são direcionadas para lotes de descarte. O descarte é feito entre janeiro e março, normalmente. É o período que deu tempo para diagnosticar e ainda possibilita aliviar as pastagens que serão diferidas, ou separadas, para o uso na seca.
O raciocínio simples acontece quase que automaticamente nas propriedades brasileiras. Quanto mais organizada a gestão, mais rigorosa é a empresa com relação a este processo.
Por isso, num primeiro momento, o aumento do abate de fêmeas no primeiro trimestre não chama a atenção, pois é comum.
No entanto, um olhar mais atento revela uma situação que pode definir o mercado de bezerros do próximo ano. Mesmo com a normalidade do aumento das fêmeas abatidas nesse período, a comparação com os anos anteriores mostra que em 2011 a proporção voltou a níveis típicos de períodos de baixa no ciclo pecuário.
Em outras palavras, proporcionalmente, o abate de fêmeas foi bem maior em 2011 mesmo quando se compara com os mesmos períodos de anos anteriores.
Observe, na figura 1, as proporções de fêmeas no abate total nos primeiros trimestres dos últimos anos.
Figura 1.
Evolução anual da porcentagem de fêmeas no abate de bovinos no primeiro trimestre
Fonte: IBGE/Bigma Consultoria
O comportamento pode levar a errônea conclusão de que seria uma tendência de virada no ciclo pecuário, algo improvável no cenário atual. Os preços ainda estão em alta e o mercado vive o processo de retenção de matrizes.
Parece confuso, mas a explicação é mais simples do que se imagina.
O abate de fêmeas aumentou pelos efeitos das condições climáticas desfavoráveis que impactaram as pastagens no Brasil ao longo dos últimos meses.
Em 2010, as pastagens brasileiras mostravam, literalmente, as condições de “vacas magras” que vinham vivendo. Quem viaja pelo Brasil notou essa característica no final do período seco de 2010.
Além da seca, outras variáveis reduziram a qualidade das pastagens. Diversas regiões registraram elevada infestação de cigarrinhas, enquanto outras foram atingidas por cheias, como no pantanal, por exemplo.
Tecnicamente, as vacas só entram em cio quando há superávit energético entre o que ela ingere e o que gasta para manter-se. Sendo assim, quando há déficit nutricional, as fêmeas não entram em cio e não emprenham. Se não emprenham, o produtor acaba por descartá-las, conforme raciocínio apresentado anteriormente.
Por isso, é possível concluir que o aumento do abate de vacas, nesse momento, é reflexo da queda de fertilidade média do rebanho brasileiro.
Se a fertilidade se reduziu, a safra de bezerros que nasce em 2011 está comprometida. O que nasce em 2011 é a desmama que irá para o mercado em 2012.
O Estado do Mato Grosso, através do IMEA, foi o primeiro Estado do Brasil a diagnosticar este cenário. As pastagens foram comprometidas, aumentou ao abate de fêmeas e espera-se redução na próxima safra de bezerros.
Os dados do IBGE, publicados agora, confirmam que além do Mato Grosso outras regiões do Brasil passam pela mesma situação.
Além do mercado de bezerros para 2012 em diante, vale ressaltar que os mesmos efeitos, que impactaram a fertilidade das vacas, incidem também nas demais categorias animais, como machos e fêmeas em crescimento ou em terminação.
E o reflexo é a baixa oferta de animais para abate dos próximos meses.
Quantificar tudo isso em termos de números de bezerros é mais desafiador por diversas razões.
Dentre essas razões, e talvez a principal delas, é que desconhecemos o rebanho brasileiro. Além da quantidade de bovinos no país, a estratificação do rebanho em categorias animais é até mais importante, do ponto de vista analítico.
Resumindo, quantas fêmeas poderiam parir neste ano ou no próximo?
E outra pergunta, qual a porcentagem de fêmeas vazias que continuaram no rebanho, ao invés de ir para o abate? O produtor se preocupa com o preço dos bezerros lá na frente e, nessa situação, pode parecer interessante manter uma vaca adulta vazia na fazenda ao invés de esperar pelas novilhas.
Por isso, a quantidade de fêmeas que não devem gerar bezerros este ano é bem maior do que o que foi para o abate. Impossível é saber quanto maior.
Tanto quem compra como quem vende, os pecuaristas estão atentos ao mercado de bezerros.
O cenário parece certo. O preço do bezerro deve seguir firme, e em alta, na safra de 2012. Quantificar os níveis de preços depende de informações mais detalhadas indisponíveis no mercado.
E essa condição, dependendo da severidade da queda da fertilidade das vacas, não é positiva nem para o criador. Preço alto de bezerros com pouco produto para vender não resolve.
A quase certa queda na fertilidade das vacas é uma frustração para a pecuária brasileira. Tanto para as pretensões de mercado, como para os resultados das fazendas e dos frigoríficos.
Será bom para poucos. Deverão colher bons resultados apenas as empresas que se prepararam adequadamente nos últimos anos, nutrindo melhor os animais, e cuidando da fertilidade do solo.
Tudo indica que 2012 será um ano muito bom para quem pensou nisso lá atrás.
FONTE: BIGMA CONSULTORIA
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