quinta-feira, 1 de março de 2012

Chegou a hora de vender no Marfrig


Para reduzir seu pesado endividamento, o Marfrig tenta fazer um negócio bilionário. EXAME teve acesso à proposta




Marcos Molina, presidente do Marfrig: a venda de 40% da Seara pode render 2 bilhões de reais
São Paulo - O frigorífico Marfrig é, hoje, o exemplo mais visível de como o crescimento desordenado pode atrapalhar uma empresa. Nos últimos cinco anos, o grupo comprou 22 empresas, o que multiplicou seu faturamento por 10 e o transformou no terceiro maior processador de carnes do mundo — no caminho, o ex-açougueiro paulista Marcos Molina se tornou um dos empresários mais poderosos do país.­


O problema, para Molina e para o Marfrig, é que o preço a pagar por esse crescimento todo foi altíssimo. Após a série de aquisições, Molina estava com uma dívida de 7,8 bilhões de reais para pagar. Os investidores, assustados com a conta, fugiram. Hoje, o Marfrig vale 40% menos do que no dia de sua abertura de capital, em 2007.
Diante disso, Molina decidiu que uma reversão era necessária: segundo mostra um documento obtido com exclusividade por EXAME, ele contratou o banco de investimento Itaú BBA para vender a fundos de investimento 40% da Seara, a unidade de alimentos processados da companhia. Com o negócio, quer levantar 2 bilhões de reais. E, ao fim do processo, tornar o Marfrig menos endividado e mais saudável.
A busca por um sócio é o verdadeiro motivo por trás do recente anúncio de reestruturação feito pelo Marfrig. No dia 27 de fevereiro, foi detalhada a separação entre a unidade de carne bovina (ou seja, o frigorífico) e a de alimentos processados.
Esta última, que inclui a marca Seara, a Keystone, a Moy Park e as operações compradas daBrasil Foods no fim do ano passado, dará origem à Seara Foods, e é uma fatia dela que está à venda. Segundo cálculos que fazem parte da proposta do Itaú BBA, os negócios que integram a nova empresa geraram receitas de 14,7 bilhões de reais em 2011, 67% do total do grupo.
Para Molina e os banqueiros que estruturam a venda, a Seara está subavaliada. Em geral, companhias de alimentos processados valem 50% mais que frigoríficos em bolsa, porque sua margem de lucro é maior — no documento do BBA, o valor estimado para essa empresa é de cerca de 5 bilhões de reais, enquanto o valor de mercado do Marfrig, como um todo, é 3,4 bilhões de reais.
“Os investidores tratam o grupo como um frigorífico, a Seara fica escondida. Por isso, vale a pena separar”, diz um analista. A estratégia de Molina é semelhante à adotada por outras companhias nos últimos anos. A TAM transformou a Multiplus, subsidiária que administra seus programas de fidelidade, numa empresa separada e abriu seu capital na Bovespa em 2010.
Hoje, a Multiplus vale quase tanto quanto a TAM na bolsa. Em fevereiro, o frigorífico JBS anunciou que sua subsidiária de laticínios Vigor seria transformada numa nova empresa, que poderia fazer uma oferta de ações.


Vender parte da Seara Foods, no entanto, pode ser um tanto complicado. Primeiro, porque ela não está exatamente barata. A relação entre o valor estimado da empresa e sua geração de caixa é equivalente à da Brasil Foods, uma empresa duas vezes mais rentável que a Seara.


Analistas estimam que deveria haver um desconto de cerca de 25% em razão dessa diferença de margem de lucro. Além disso, executivos de fundos de private equity ouvidos por EXAME dizem que 2 bilhões de reais é um valor alto demais para ser pago por uma fatia minoritária — eles podem exigir uma participação maior no controle da empresa, e ainda não ficou claro se Molina está disposto a ceder.
Procurado por EXAME, o empresário não confirma que esteja vendendo a participação na Seara. “A reestruturação de nossos negócios e a recente venda de ativos vão nos deixar numa posição confortável. Não precisamos vender mais nada”, disse ele.
Segundo Molina, a criação da Seara Foods vai proporcionar um ganho anual de 330 milhões de reais ao Marfrig em cinco anos, já que a união das unidades de alimentos processados vai, em tese, cortar custos. Isso, somado aos recursos que serão recebidos até março com a recente venda de duas­ unidades de logística, poderia reduzir a dívida do grupo em cerca de 10%. A venda de 40% da Seara Foods a diminuiria em 25%.  
Enfim, uma boa notícia
Ainda que haja concessões, a proposta de venda da Seara Foods pode se transformar numa rara boa notícia para o Marfrig. Em agosto do ano passado, as ações da empresa chegaram a cair 25% num único pregão depois de o fundo GWI ter vendido sua participação de 5% no frigorífico.
Em seguida, vieram dois trimestres de prejuízos e surgiu a suspeita de que Molina estaria atuando para valorizar artificialmente as ações — um relatório da empresa de pesquisas Empiricus diz que Molina, que comprou o equivalente a 100 milhões de reais em papéis do Marfrig em cinco meses, fez boa parte das aquisições no final do pregão, o que, segundo a Empiricus, seria uma tentativa de elevar as cotações no fechamento.
Molina, que está processando a Empiricus, diz que comprou as ações porque acredita no potencial de alta da empresa. Somente um dos 16 analistas que cobrem a companhia recomenda a compra de suas ações. Enquanto não surgir uma boa notícia, pouca gente vai compartilhar o otimismo do dono do Marfrig.
FONTE: EXAME.COM

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