quinta-feira, 1 de março de 2012

Exportação de gado em pé


Ronaldo Zechlinski de Oliveira*


Repercutiram no meio rural, de forma bombástica, as pretensões de alguns setores ligados aos frigoríficos de taxar em 30% o gado que é exportado em pé.
Como era de se esperar, os pecuaristas reprovam este contra censo. Alegam os frigoríficos interessados, que falta boi para abate, e seria mais proveitoso exportar a carne manufaturada ao invés de gado vivo que tem menor valor agregado.
Vamos por partes. Na realidade só falta boi para abate nos frigoríficos de São Paulo, porque a cana de açúcar, sendo mais rentável, expulsou a boiada para regiões distantes, como Mato Grosso, Mato Grosso do sul, Goiás e Tocantins.
Como é mais barato transportar o boi morto do que vivo alguns empresários construíram frigoríficos nestas regiões, por consequência falta boi em São Paulo.
Só dois portos exportam gado em pé, Belém no Pará com 95% do volume e Rio Grande como o restante. Basta conhecer o mínimo de geografia para perceber que estas duas praças em nada afetam o mercado do boi de abate em São Paulo.
No nosso caso, entendemos que cada navio boiadeiro que deixa o Porto do Rio Grande com destino aos países do mediterrâneo, em muito, contribui para a geração de emprego e renda na nossa comunidade.
Pecuaristas, caminhoneiros, peões, veterinários, fabricantes de rações, portuários, despachantes, escritórios rurais, todos ganham com esta atividade.
Os frigoríficos alegam que são prejudicados com a exportação de gado vivo, porém no passado importaram gado em pé do Uruguai em volume considerável e derrubaram o preço do mercado interno, levando os produtores ao impasse de ter boi gordo nas invernadas e não ter compradores.
Fica a pergunta, importar gado em pé sem taxa é possível, exportar só com taxa?
Voltando ao valor agregado, tão badalado pelos frigoríficos, fica outra pergunta no ar, soja, minério de ferro, café e tantos produtos primários que exportamos também serão taxados?
É claro que não, o País precisa destes dólares para manter as contas em dia.
A venda de animais jovens faz girar o estoque dentro da propriedade rural com maior rapidez, antecipa receita e aumenta o uso de tecnologia, hoje é comum a suplementação de terneiros destinados a exportação com uso de rações comerciais e subprodutos como casca de soja e farelo de arroz, como consequência temos o aumento da taxa de fertilidade, pois a vaca é liberada mais cedo para uma próxima gestação.
Outra consequência foi melhora do padrão de gado do município, pois o mercado de exportação prefere animais machos e de raças europeias, nos últimos oito remates na Expo Feira do Rio Grande 100% da oferta foi de touros da raça Angus, já é visível quanto esta simples decisão foi benéfica para a qualidade do nosso rebanho.

Também deve ser destacado que em alguns países existe a tradição de importar gado vivo e fazer a engorda e abate segundo costumes locais, caso o Brasil não atenda este mercado, com certeza outro fornecedor vai abocanhar este filão, e a regra é clara “o cliente é o nosso patrão” devemos fornecer o que ele quer comprar, ou seja, gado em pé.

*Pecuarista - Campos da Barra Pecuária e Adm. 

FONTE: JORNAL AGORA

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