O socorro do governo aos frigoríficos em situação financeira debilitada tem esbarrado na dificuldade de convencer donos e acionistas da indústrias a aceitar a fusão das empresas em um ou dois grupos. Ao menos 15 frigoríficos pequenos e médios precisariam de uma injeção de R$ 2,5 bilhões de capital para contornar os efeitos negativos da crise financeira global.
Em conversas reservadas, executivos de frigoríficos têm afirmado ser difícil cumprir a "recomendação" do governo de fundir operações e profissionalizar a gestão dos negócios antes de resolver pendências como processos de recuperação judicial ainda em andamento. O governo reconhece a dificuldade do setor, mas condiciona eventual capitalização a mudanças societárias e reforços estruturais na tentativa de equilibrar o peso dos gigantes JBS, Marfrig e Brasil Foods.
A concessão de benefícios aos frigoríficos também teria que ser "carimbada" para garantir o pagamento de dívidas com pecuaristas, hoje estimadas em R$ 800 milhões, e com instituições financeiras.
Parte dos empresários do setor avalia que as indústrias que poderiam fundir suas operações têm saúde financeira em "estágios diferentes". Por exemplo: a formação do primeiro grupo, que teria cinco frigoríficos com maior identificação entre si, sofre resistência de empresas cujo processo de recuperação judicial está mais avançado do que as demais "sócias". Pelas conversas iniciais do setor com o governo, a fatia dos novos sócios no futuro grupo seria equivalente ao patrimônio e ao endividamento atuais de cada empresa. Por isso, há divergências sobre a participação de cada empresa no novo grupo.
O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, tratou recentemente do assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a amplitude do socorro ao setor permanece indefinido. O presidente pediu uma solução, o que poderia incluir ação do BNDES para sacramentar a união das empresas em dificuldade. As indústrias continuam a pressionar o governo por medidas de auxílio, mas relutam em abrir mão de seus negócios. Consultada pela reportagem do Valor Econômico, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) preferiu não se manifestar.
As dificuldades financeiras dos frigoríficos e as discussões sobre o processo de concentração do setor chegaram ontem ao Senado. A Comissão de Assuntos Econômicos aprovou a realização de uma audiência pública para debater o nível de endividamento do JBS em operações do BNDES. O requerimento, assinado pelo senador José Bezerra (DEM-RN), convida o presidente do JBS, Joesley Mendonça Batista, a participar da audiência. O BNDES tem sido questionado por sua política de empréstimos e participações acionárias no JBS e no Marfrig, os dois maiores grupos frigoríficos do país.
Dirigentes do setor e parte da equipe do presidente Lula avaliam que a situação dos frigoríficos requer ação imediata. A crise na União Europeia e a pressão interna para barrar a carne brasileira no bloco travam a superação da restrição de demanda. Os sinais de desaceleração nos Estados Unidos e na China também reforçam a sensação de urgência. E questões operacionais no Irã, aliadas a barreiras não-tarifárias na Rússia, dificultam um reforço no caixa das indústrias frigoríficas.
FONTE: A matéria é de Mauro Zanatta, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
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