terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tendências do agronegócio brasileiro para 2011

Preços em alta, consumo aquecido e custo de produção menor devem favorecer expansão do setor
por Luciana Franco Fotos Ernesto de Souza

Ernesto de Souza

O agronegócio brasileiro vai registrar expansão acima da média em 2011. A estimativa é da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que atribui aos altos preços das commodities, à forte demanda interna e externa e à redução dos custos de produção a projeção de um avanço mais acelerado no campo neste ano. Com isso, o faturamento dos 25 produtos agropecuários vai crescer 3,65% e atingirá 261 bilhões de reais no período. “Os estoques de grãos estão em baixos níveis, e o consumo deve continuar aquecido. O Brasil, maior produtor de alimentos do mundo, será favorecido nessa conjuntura”, diz a senadora Kátia Abreu, presidente da CNA. Outro aspecto positivo para o setor apontado pela CNA foi a queda dos custos de produção ao longo de 2010. No período, o gasto médio por hectare foi de 936 reais, em comparação com os 1.160 reais gastos em 2009. “Esse cenário compõe um quadro de rentabilidade para o agricultor brasileiro”, avalia André Pessoa, diretor da Agroconsult, empresa de consultoria agrícola.
Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da Faculdade Getúlio Vargas (GV-Agro), 2011 será um ano emblemático para a agricultura e o Brasil não será somente favorecido pela conjuntura internacional. Rodrigues afirma que o país será o protagonista do aumento da produção de alimentos no mundo. “Teremos um novo governo e a oportunidade de grandes revisões do processo produtivo no momento em que nos foi imposto o desafio de crescer acima da taxa mundial”,afirma o ex-ministro.
Rodrigues se refere a um levantamento realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que aponta que a produção de alimentos terá de crescer 20% nos próximos dez anos a fim de atender à demanda mundial. Nesse panorama, a União Europeia vai contribuir com um aumento de 4%; a Austrália com 7%; os Estados Unidos e o Canadá com 15%; a Rússia e a China com 26%; e o Brasil com 40%. “Teremos de avançar o dobro do crescimento mundial, e isso implica numa expectativa muito grande sobre nossa produção, em função da disponibilidade de terras e de nossa competitividade”, diz Rodrigues.

“O AGRICULTOR NÃO PODE ARCAR SOZINHO COM O ABASTECIMENTO DO PAÍS. O GOVERNO PRECISA GARANTIR PREÇOS MÍNIMOS SEM BUROCRACIA” Kátia Abreu

Ele acrescenta que a projeção de crescimento da área de energia será ainda maior que a de alimentos. “A China comprou mais carros que qualquer outro país neste ano. Lá a estatística é de três carros para cada 100 habitantes – em comparação, os Estados Unidos têm 60 carros para cada 100 habitantes. Portanto, a demanda crescerá ainda mais nos próximos anos, e a pressão ambiental vai impulsionar o consumo de combustível limpo”, avalia o ex-ministro.
A presidente da CNA também vê a China como motor da economia mundial. “Projeções mostram que o país deve crescer entre 8% e 9,5% neste ano, mas, se o desempenho do gigante asiático for inferior a 8%, o quadro será de preocupação, uma vez que o crescimento menor reduzirá a demanda por alimentos, importados principalmente do Brasil”, avalia a senadora. A volta da inflação e uma desaceleração econômica mundial também poderiam afetar as boas previsões da CNA para o setor em 2011. A entidade estima que as exportações do agronegócio atinjam novo recorde histórico, de 77,8 bilhões de dólares, com saldo positivo de 66,5 bilhões de dólares.
No entendimento de Rodrigues, existem seis pilares que são considerados fundamentais para a consolidação do agronegócio brasileiro. O primeiro é a renda, com o seguro rural, o crédito e os preços de garantia ao produtor. O segundo é a logística, com priorização das estradas, ferrovias e portos. Em terceiro, destaca-se a tecnologia, com a continuidade dos investimentos no campo. O quarto pilar refere-se ao comércio exterior, com a adoção de uma política mais agressiva. O quinto trata da defesa sanitária, por meio da criação de um programa eficaz. E finalmente o sexto pilar trata de uma revisão ampla do aparato legal sobre o campo, que inclua as discussões sobre o direito de propriedade, questões trabalhistas e ambientais. “O cenário é promissor para o Brasil, porém, se quisermos aproveitar essa oportunidade, temos de priorizar esses seis pilares”, afirma Rodrigues. As estimativas para 2011 são otimistas para a maioria das commodities. O comércio de grãos, que surpreendeu em 2010 em função das altas cotações, deve se apresentar ainda mais aquecido em 2011, em função dos baixos estoques mundiais e da tendência de elevação no consumo das famílias.
Já a produção de cana-de-açúcar deve se manter estável em 560 milhões de toneladas no Brasil. O segmento sucroenergético apresenta potencial de crescimento em 2011, ainda que a safra de cana se mantenha estagnada. A expectativa é de aumento das vendas de açúcar e álcool. A produção de energia a partir do bagaço também vai aumentar, e o mercado de bioplástico tende a se desenvolver com mais velocidade. “As perspectivas de mercado são otimistas, mas o setor necessita de um novo ciclo de investimentos”, avalia Marcos Jank, presidente da União da Indústria da Cana (Unica).


Revista Globo Rural

No segmento de carnes, o destaque será a produção de frango, que foi a sensação de 2010 e promete repetir a boa fase neste ano, período em que a União Brasileira de Avicultura (Ubabef) prevê um crescimento de 3% a 5% para o setor. “Ao que tudo indica, o Brasil vai superar a China na produção de aves em 2011”, diz Francisco Turra, presidente da Ubabef.
Já o boi gordo, que em novembro de 2010 atingiu preço histórico, com a arroba cotada a 117 reais, deve, durante abril ou maio, na safra, recuar para o patamar de 95 a 98 reais. “Como será um período de chuvas em abundância, creio que isso ajudará na recuperação das pastagens e deve conter as pressões de alta do mercado”, diz Paulo Molinari, analista da empresa de consultoria Safras & Mercado. Ainda assim, o consumo interno e externo vai manter-se firme, em crescimento. Isso é positivo para o preço do boi e da carne. “Do lado da oferta, teremos uma produção um pouco maior que em 2010, pois o cenário de preços é mais convidativo ao uso de tecnologia e confinamento”, calcula Miguel da Rocha Cavalcanti, analista do BeefPoint.
Para o café, cuja safra somará 48 milhões de sacas de 60 quilos no período 2009/2010, a previsão é de preços maiores ao longo deste ano, já que os estoques mundiais do produto estão em queda e a safra brasileira de 2010/2011 será menor, em decorrência do ciclo produtivo do grão, caracterizado por um ano de safra alta e seguido por período de safra baixa. Apesar do cenário otimista para o ano, Kátia Abreu reivindica uma reforma do atual modelo da política agrícola do país. “O agricultor não pode arcar sozinho com o abastecimento do país. O governo precisa garantir preços mínimos sem burocracia”, diz a presidente da CNA, que também pede prioridade para a solução da logística do Centro-Oeste, responsável por 50% da safra brasileira de grãos.
Outro ponto negativo para o segmento foi o adiamento da votação do novo Código Florestal para este ano. “Essa situação aumenta o quadro de insegurança jurídica entre os produtores”, diz a senadora, acrescentando que, enquanto aguardam a aprovação da proposta de atualização do Código Florestal, 90% dos produtores continuam em situação irregular.
Na avaliação de Rodrigues, o Brasil consegue superar problemas como a precariedade da infraestrutura e o protecionismo europeu, mas vive esse impasse na questão ambiental. “Isso é um absurdo, pois o agronegócio brasileiro é um dos mais sustentáveis do mundo, com os maiores índices de produtividade agrícola, maior integração lavoura-pecuária, maior plantio direto e maior reserva ambiental”, afirma.
A restrição da venda de terras para estrangeiros também não é vista pelo setor com bons olhos. “A vinda de estrangeiros para o Brasil tem a vantagem de que eles passarão a ser nossos aliados para derrubar subsídios no mercado internacional”, avalia Roberto Rodrigues. Para ele, ainda que estejam nas mãos de estrangeiros, as terras são brasileiras e geram emprego e renda no Brasil. “Acredito que o governo deva discutir melhor essa questão em 2011”, afirma.

Colaborou Sebastião Nascimento
FONTE: GLOBO RURAL

Nenhum comentário: