Cenários: É o que prevê relatório da FAO e da OCDE para próximos 10 anos
Assis Moreira, de Genebra
Exigências ambientais e padrões sanitários mais rígidos vão elevar os custos da produção de carne bovina, principalmente, e desacelerar a expansão dessa proteína nos próximos dez anos. Ao mesmo tempo, crescerá a preferência do consumidor por frango em detrimento de outras carnes.
A projeção é da Agência de Agricultura e Alimentação da Organização das Nações Unidas (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em relatório sobre as perspectivas agrícolas para os próximos dez anos, ao qual o Valor teve acesso e que será divulgado hoje. O documento confirma a predominância do Brasil na produção das mais diversas commodities.
Recentemente, a FAO causou controvérsias ao apontar a pecuária como responsável por 18% das emissões totais de gases de efeito estufa (considerando todos os segmentos), mais do que o setor automotivo, e sugerindo dietas vegetarianas.
Agora, o novo relatório calcula que a pecuária é responsável por 80% de todas as emissões do setor agrícola em decorrência de desmatamento, uso de combustíveis em queimadas, fermentação intestinal e gestão de esterco.
A FAO e a OCDE calculam que as emissões devem aumentar substancialmente no futuro, já que a alta da renda deve elevar o consumo de carnes, lácteos e outros produtos de maior valor agregado.
Projetam maior alta nas emissões agrícolas na América Latina, Ásia e África. O custo das emissões da pecuária pode resultar em mudanças na produção, consumo e comércio do setor, diz o relatório, favorecendo a demanda por carne associada a um menor volume de emissões, como frango.
O consumo mundial de carnes continuará a ter uma das maiores taxas de crescimento entre os produtos agrícolas. Virtualmente toda a alta da demanda virá de países em desenvolvimento, sobretudo para carne de frango que poderá crescer 2,8% ao ano, e carne suína, com 2,3%. Já a demanda por carne bovina deve aumentar 2%.
"Parece haver uma preferência universal por frango em comparação com outras carnes", diz o estudo. Mesmo nos países da OCDE, onde o crescimento per capita do consumo de carnes é marginal, o frango cresce em detrimento de outros produtos. "Essa tendência deve continuar nessa década ao redor do mundo".
Em termos de produção, a de carne bovina só aumentará 1,9% na próxima década - ante 2,1% até agora - , por causa de maior custo e disponibilidade de recursos naturais. Países emergentes serão responsáveis por 89% da produção adicional, com domínio do Brasil e China - o primeiro com maior ganho de produtividade do trabalho e o segundo com mais ganho de produtividade da terra.
Quanto ao comércio, as exportações podem aumentar 22% em comparação ao período 2007-09. A projeção aponta o Brasil como responsável por 63% das vendas de toda a carne exportada a partir de países não membros da OCDE, e por um terço da exportação total.
Os Estados Unidos perderão sua liderança nas importações de carne até 2019 para a Europa. Os europeus vão importar 2,9 milhões de toneladas por ano, os EUA, 2,2 milhões e o Japão, 2,1 milhões de toneladas. Japão, México e Coreia continuarão sendo importadores líquidos. A Rússia, até recentemente o maior importador líquido de carnes, pode reduzir suas compras em até 1 milhão de toneladas, se conseguir o objetivo de elevar a produção doméstica.
A expectativa é de que os mercados de carnes vão se recuperar rapidamente nos primeiros anos da projeção 2010-2019. Nos últimos dois anos, os preços não acompanharam o desenvolvimento "excepcional" das outras commodities.
Em termos de preços, a projeção é de alta nominal para carnes bovina e suína de 22% até 2019, enquanto o preço do frango subiria 34% e o da carne de cordeiro, até 68%.
A FAO e OCDE preveem também um ritmo mais acelerado na consolidação e globalização da produção. Exemplo é a união entre Perdigão e Sadia, que criou a BRF Brasil Foods, uma das maiores do setor de carnes no mundo em valor de mercado. A exigência de crescente economia de escala, no rastro da crise econômica, deve abrir "oportunidades globais" de consolidação no setor.
FONTE: Valor Econômico
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