Até chegar ao consumidor final há um grande processo, desde a cria e engorda dos animais até o preparo nos restaurantes
Em busca de alternativas de mercado e fidelização de público, a indústria da carne investe em produtos diferenciados para clientes exigentes e dispostos a pagar mais pela qualidade extra. A iniciativa acaba tendo reflexos em toda cadeia produtiva da carne, dos produtores aos restaurantes, e a consolidação dos produtos ocorre em alta velocidade no Estado e em todo o país. Dos pequenos aos grandes, o objetivo é diversificar mercadorias e ainda oferecer qualidade certificada, desde a origem dos animais.
Com sua pequena produção de ovinos, o produtor rural e empresário Marco Túlio Duarte Soares identificou que o espaço ocioso em seu frigorífico (em decorrência da falta de animais para abater) poderia ser ocupado por bovinos. "Minha ideia era iniciar os abates bovinos no início de 2011, mas como havia esta capacidade, que não era ocupada, antecipei o projeto, que é todo diferenciado".
E o trabalho do frigorífico Celeiro começa no relacionamento com o pecuarista. Prezando pela qualidade, a empresa paga entre 3% e 5% a mais pela arroba dos animais das raças inglesas Angus e Hereford, que possuem um fina camada de gordura entre as fibras musculares que lhes concedem o marmoreio, ou seja, maciez e mais sabor. "Além de exemplares das raças europeias ou de cruzamentos dessas raças, os animais têm no máximo 24 meses e no caso de machos, são capões", conta referindo-se ao animais castrados.
A atuação do Celeiro no mercado surgiu da necessidade de diferenciar o produto e o modo de produção para se tornar competitivo. "Minha produção é em pequena escala, não teria como competir com grandes grupos que abatem em grandes escalas e vendem para o mundo inteiro. Percebi a demanda que havia e investi neste nicho", afirma ao comentar que grandes empresas até fazem este trabalho diferenciado, mas geralmente é voltado para o mercado internacional.
Na mesma direção, o grupo Frialto também inicia parceria para entrar neste mercado de cortes selecionados e de pecuária selecionada. O diretor do grupo, Paulo Bellincanta explica que o frigorífico precisa abrir uma outra marca para apresentar um novo produto com preços também diferenciados. Para isso, em uma ação inédita no país, o Frialto fechou uma parceria com o Esporte Clube Corinthias Paulista para que pudesse agregar às carnes, a marca do time. "Primeiramente serão dois projetos. O Timão, com exclusividade de picanhas selecionadas e em um ano o Corinthians Premiun, que serão cortes de animais de raça europeia, com pouca idade e criados em propriedades que respeitem a legislação ambiental e trabalhista". Bellincanta ressalta que o grupo fará parcerias com produtores para incentivar a pecuária diferenciada.
Para o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, este sistema de cria e de abate é uma tendência de mercado. "Existe um grande nicho de consumidores exigentes que estão dispostos a pagar a mais para ter uma carne de qualidade, acima do padrão", afirma ao comentar que em geral a carne brasileira já é de considerada muito boa. Segundo Vacari, a Associação estimula este tipo de produção por entender que Mato Grosso tem capacidade para atender qualquer demanda e criar todos os tipos de raças e realizar cruzamentos. "Estamos abertos para aproximar os pecuaristas e os empresários em busca de investimento em tecnologia".
O frigorífico Marfrig iniciou este ano a ampliação do programa Qualidade Nelore Natural, que acompanha, por meio de uma equipe técnica, o sistema de criação e características como peso mínimo, acabamento de gordura e idade, que quando dentro do padrão, são selecionados e os cortes recebem o selo Nelore Natural. Além disso, o programa também aproxima a indústria do produtor e permite um acompanhamento sobre o sistema de produção, se se enquadra ou não às exigências socioambientais. Em Mato Grosso, o município de Tangará da Serra irá participar do programa e até 2011, o acompanhamento terá iniciado.
O pecuarista Jorge Pires é um dos que investem na criação de raças e cruzamentos para atender a um mercado específico. Segundo ele, a inseminação e o manejo incrementam o custo de produção, mas que o retorno é garantido porque há quem queira pagar pelo diferencial. O Marfrig afirma que os produtores que participam do programa Qualidade Nelore Natural recebem até 4% a mais sobre o preço de mercado e ainda garantem a qualidade dos animais.
Aliás, pagar a mais não parece um problema. Nos supermercados que revendem essas marcas, os clientes não reclamam o alto valor porque sabem o que vão levar. O gerente de uma das lojas do supermercado Comper, que oferece carnes em cortes nobres e de novilho precoce, Edilson da Silva, diz que a linha tem tido crescimento constante e desde que chegou ao supermercado é comum ver clientes procurando pelo produto. Quanto ao preço, Silva diz que os consumidores estão cientes da qualidade do produto e não questionam o custo elevado. "Os clientes até reclamam quando a carne tradicional sofre aumento de preço, mas com relação aos cortes nobres isso não acontece".
Nos restaurantes que também elaboram pratos a partir dos cortes especiais, o produto fideliza o cliente. No Mahalo, a subchef, Claudineia Portela, diz que os clientes chegam a ligar um dia antes para pedir o preparo, principalmente do "flinstone", um pedaço que vem com osso e carne extremamente macia. "Este corte é preparado às quartas-feiras, mas nos outros dias os clientes ligam e pedem para deixar preparado porque querem exclusivamente aquele corte. Sem falar no "chorizo", que também tem ótima aceitação".
Luciano Vacari diz que grandes redes de supermercados, como Pão-de-Açúcar e Carrefour buscam fidelizar o cliente com o oferecimento de produtos exclusivos. Segundo Vacari, eles buscam uma raça em todo o mundo que se adapte no Brasil com qualidade extra e faz parcerias para que produtores e frigoríficos iniciem os trabalhos de cria e abate.
FONTE:Gazeta Digital
Autor: Laís Costa Marques
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